Os cientistas Frederick Banting e Charles Best, que
descobriram a insulina em 1921, venderam a patente do produto por 1 dólar para
a Universidade de Toronto. O objetivo dos pesquisadores era que a insulina
fosse produzida em larga escala a baixo custo, de forma a estar disponível e
acessível a todos os que necessitassem.
Quase 100 anos depois, a situação não é exatamente a sonhada
pelos brilhantes professores. A insulina humana, hoje produzida, é um medicamento biológico, ou seja,
derivado de um processo de biotecnologia e desenvolvido a partir de organismos
vivos. Depende, portanto, de um complexo processo de produção. Por isso, a fabricação
está na mão de poucas empresas, que usam tecnologia de ponta para desenvolver
moléculas modificadas, resultando em produtos diferenciados – insulinas de ação
rápida, ultrarrápida, lenta e ultralenta. Ótimo do ponto de vista de avanços no
tratamento, mas bem ruim para o bolso.
No ano passado, uma luz surgiu no final deste túnel: as
insulinas biossimilares. Já ouviu falar? Pois deveria. Os medicamentos
biossimilares são como cópias dos fármacos de referência. E, como são
desenvolvidos depois do fim da patente do medicamento de referência, podem ser produzidos
a um custo menor. Além disso, por criar concorrência, estimulam a redução de
preço do produto original.
A primeira insulina biossimilar aprovada no Brasil pela Anvisa
(Agência Nacional de Vigilância Sanitária), em 2017, foi a Basaglar®. Trata-se
de um análogo de longa duração desenvolvido por meio da aliança firmada entre as
empresas Eli Lilly e a Boehringer Ingelheim. Tem como referência a insulina
glargina (Lantus®, da Sanofi).
Então, biossimilares são como os genéricos? NADA DISSO. Os
biossimilares, como o nome diz, são similares,
mas não idênticos aos medicamentos originais.
Explicando melhor.
Por definição, os genéricos são cópias de produtos originais
constituídos por moléculas simples. Daí o processo químico de síntese consegue
ser idêntico ao do produto de referência. Os medicamentos genéricos devem
conter o mesmo princípio ativo e ser usados na mesma dose e via de
administração do fármaco de referência. Por isso, são intercambiáveis, ou seja,
podem ser usados no lugar do medicamento de referência mesmo sem expressa
indicação médica.
Já os biossimilares são cópias de fármacos biológicos,
moléculas complexas, instáveis e heterogêneas. E que não podem ser reproduzidas
em sua totalidade. Para fabricar um medicamento biossimilar, é preciso
desenvolver uma nova molécula, similar à
do medicamento de referência, mas não igual.
Na prática, o que isso significa? A insulina de referência e
o produto biossimilar não são intercambiáveis.
Quer dizer que não dá para trocar de insulina? Claro que
sim, mas apenas com acompanhamento médico! Porque é preciso saber como o seu
organismo vai responder ao medicamento. Pode funcionar da mesma forma, pode ter
de mudar a dose, o horário de aplicação, pode simplesmente não funcionar.
O que não pode é mudar de produto por conta própria. Ou
comprar a insulina original em um mês e a biossimilar no outro. Ou vice-versa.
A SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes), em posicionamento
divulgado no início do ano (Posicionamento Oficial 1/2018),
recomenda “fortemente a introdução de insulinas biossimilares no mercado
brasileiro”, mas ressalta que “a qualidade, eficácia e segurança das insulinas
biossimilares devem ser comprovadas por seus fabricantes”. E, por isso, a
entidade não recomenda a substituição automática
das insulinas de referência por suas biossimilares (e vice-versa).
Na dúvida? Converse com seu médico e/ou equipe de saúde.
Veja se a troca ou introdução do biossimilar se aplica ao seu caso.
A ideia é sempre aproveitar o que a tecnologia pode
proporcionar para melhorar o tratamento. Mas sempre com segurança e responsabilidade.
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