A insuficiência cardíaca é uma doença caracterizada pela
diminuição da capacidade de bombeamento do coração. Ou seja, o coração é
incapaz de bombear e distribuir sangue de forma a atender às necessidades
metabólicas de todos os tecidos do organismo.
E o que isso tem a ver com diabetes? Tudo! Já falei aqui
sobre como a glicemia constantemente elevada causa danos ao coração (leia E o coração padece). Esses danos acumulados ao longo dos anos podem desembocar
na insuficiência cardíaca, tornando o diabetes um fator de risco estabelecido
para o desenvolvimento da doença.
Entre as pessoas com insuficiência cardíaca, 34% têm
diabetes. E entre os indivíduos com diabetes, 12% têm insuficiência cardíaca,
prevalência que sobe para 22% entre os idosos com DM.
São muitos números, mas o que mostram é a correlação
inequívoca entre as duas condições.
A diferença é que o diabetes pode ser controlado e garantir
uma vida saudável. Enquanto a insuficiência cardíaca, se instalada e não
tratada, pode comprometer muito a qualidade de vida.
Funciona assim: o músculo cardíaco, por conta de “maus
tratos” ao longo da vida, vai ficando debilitado. Daí não tem força para
bombear o sangue para o corpo. Os tecidos vão ficando desnutridos. O sangue que
“sobra” dentro do coração congestiona a região pulmonar, causando falta de ar.
Primeiro ao esforço, depois mesmo em repouso, o que chega a afetar até o sono e o
descanso. Com o agravamento da condição, pode surgir edema (inchaço), não
apenas visível (no abdômen, pernas e pés), como por dentro do corpo
(especialmente do fígado).
Além da falta de ar e inchaço, os principais sintomas da
insuficiência cardíaca são: tosse sem causa aparente, ganho de peso súbito, palpitações,
fadiga, dificuldade de concentração, vertigem, náusea e suor excessivo.
Claro que não é apenas o diabetes que provoca o surgimento
da insuficiência cardíaca. O cigarro está entre as principais causas, junto com
a hipertensão, a dislipidemia e a ingestão excessiva de bebida alcoólica.
Dá para prevenir? Sim, cuidando bem da saúde do coração,
como sempre. Não fumar, seguir uma dieta saudável, praticar atividade física
regularmente, manter hipertensão e dislipidemia sobre controle. E, claro, cuidar
da glicemia. Estudos mostram uma associação direta entre os níveis de
hemoglobina glicada e o risco de insuficiência cardíaca. Ou seja, quanto maior
a HbA1C, maior o risco.
Mas tão importante quanto prevenir é cuidar, tratar da
insuficiência cardíaca. Um importante estudo publicado em 2014, o BREATHE (Brazilian
Registry of Acute Heart Failure), mostrou alta taxa de mortalidade
intra-hospitalar nos pacientes internados com IC aguda em diferentes regiões do
Brasil. Taxas que superam o dobro do registrado nos Estados Unidos e na Europa.
Entre os motivos, a baixa aderência ao uso de medicamentos. Outro estudo
importante (Brown
MT, Bussell JK. Medication adherence: WHO cares? Mayo Clin Proc., 2011)
demonstra que entre os indivíduos com doenças crônicas 50% NÃO TOMAM o remédio
como prescrito. Isso inclui os medicamentos não apenas para insuficiência
cardíaca, mas para pressão, colesterol e, claro, diabetes.
Entre os idosos – os mais afetados pela insuficiência cardíaca – a
aderência tende a ser menor ainda, por conta da chamada “polifarmácia” (aquele
monte de remédios....), que gera esquecimentos e confusões por falha na
compreensão de como e porquê usar adequadamente a medicação.
Sim, a falta de aderência ao tratamento não deve ser
considerada responsabilidade exclusiva do indivíduo. Segundo o estudo BREATHE, no
caso da insuficiência cardíaca pouco mais da metade dos pacientes recebem
orientação sobre o uso correto dos medicamentos. Mais: apenas 43% são alertados
sobre como reconhecer a piora dos sintomas. E mesmo entre aqueles que passaram
por internação hospitalar, só 35% recebem na alta instruções apropriadas sobre
os cuidados a serem tomados.
Mas não tenho só notícias ruins. A situação do tratamento no Brasil deve sim melhorar.
Recentemente, a Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no
SUS) analisou e aprovou a proposta das Diretrizes Brasileiras para
Insuficiência Cardíaca estabelecidas pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). O
texto tem por objetivo melhorar a atenção do indivíduo com insuficiência
cardíaca, padronizando a prática e implantação das melhores condutas. Traz orientações
para os profissionais de saúde sobre aspectos relacionados à classificação, ao
acompanhamento e ao encaminhamento a serviços especializados para controle da
doença, assim como orientações quanto ao diagnóstico e ao tratamento de
insuficiência cardíaca também no âmbito ambulatorial.
Na prática, significa que os médicos e equipes de saúde,
inclusive do SUS, passam a dispor de mais informações e ferramentas para
prevenir e cuidar da insuficiência cardíaca.
Diante dessas informações, o que cabe ao indivíduo/paciente
fazer?
- Prevenção – valem as recomendações de sempre: alimentação saudável, peso adequado, atividade física regular, hipertensão/colesterol/glicemia sob controle.
- Diagnóstico – fique atento aos sintomas. Em você mesmo, no seu cônjuge, irmãos, pais, amigos. A identificação precoce da insuficiência cardíaca permite tratamento adequado, redução de riscos e melhor qualidade de vida
- Tratamento – informe-se sobre o uso adequado dos medicamentos, questione seu médico/equipe de saúde sobre os tratamento disponíveis, o agravamento de sintomas e o que fazer em situações de emergência. Principalmente, siga as orientações!!
Também na insuficiência cardíaca, informação é sinônimo de
empoderamento. E empoderamento pode significar mais saúde.