O coração é a maior causa de morte no diabetes. Nada menos
do que 3 em cada 4 pessoas com diabetes morrem de doença cardiovascular. Isso
porque a glicemia constantemente elevada altera a função das células do
endotélio, que é o revestimento interno dos vasos sanguíneos. Quando o dano atinge
os pequenos vasos, surgem as complicações microvasculares, como a retinopatia,
a nefropatia e a neuropatia (falamos sobre elas no último post, Complica não). Quando os vasos afetados
são os grandes, tem-se a doença cardiovascular.
Para piorar, as pessoas com diabetes – especialmente no DM2
– costumam apresentar outros fatores de risco, como hipertensão, níveis
elevados de colesterol e triglicérides, tabagismo, excesso de peso, sedentarismo
e dieta inadequada. O estudo Diab-Core, realizado na Alemanha junto a quase
1300 pacientes com diabetes tipo 2, mostrou que 82,5% também apresentam
hipertensão e quase 55% têm dislipidemia (estima-se que 49% tenham pressão alta
já no diagnóstico). Pior: 77% não conseguem sucesso no controle das duas patologias.
Sem contar que o fato de ter diabetes aumenta a chance de desenvolver hipertensão,
aumentar o colesterol e é fator de risco para a insuficiência cardíaca.
Imaginem o quadro: a glicemia alta causa danos ao endotélio,
como explicamos acima. O que facilita a deposição de placas de gordura,
resultado do colesterol elevado. Daí, a pressão alta enrijece a parede das
artérias (em caso de fumantes e sedentários, mais ainda), que perdem
elasticidade para a passagem do sangue. Resultado?
Bloqueio do vaso. Se acontecer no coração, é infarto. Se for no cérebro,
AVC (acidente vascular cerebral ou derrame). Como consequência, a cada ano 47
em cada 1000 pessoas com diabetes têm um evento cardiovascular.
O que fazer? Sentar e chorar?? Nada disso. A boa notícia –
sim, existe boa notícia – é que o autocuidado é capaz de reverter esse quadro.
Manter a glicemia sob controle traz uma redução de 57% na mortalidade
cardiovascular, segundo um importante estudo clínico DCCT (Diabetes Control and
Complications Trail). Mas não basta: é preciso tratar as doenças associadas –
pressão alta, dislipidemia, insuficiência cardíaca – e adotar mudanças no
estilo de vida, o que inclui parar de fumar, seguir uma alimentação saudável e
praticar atividade física regularmente.
Para começar, é preciso reconhecer a existência do risco. Em
pesquisa realizada pelo IBOPE Inteligência e a SBD (Sociedade Brasileira de
Diabetes) em 2016, apenas 42% dos entrevistados citaram as doenças cardíacas
como as complicações mais relevantes do diabetes. Por isso mesmo está em
andamento um estudo mundial da IDF (International Diabetes Federation) para
avaliar o conhecimento que as pessoas com DM2 têm sobre os riscos relativos ao
coração (veja abaixo o vídeo da campanha). O estudo Taking Diabetes to Heart pode ser acessado em https://bit.ly/2L5esn5 (ou
no site www.idf.org/cvd) e deve respondido
até o próximo dia 31 de maio. Vai lá!
De novo vale a mensagem: informação é poder. É preciso
aumentar o acesso ao diagnóstico, tanto de diabetes como das comorbidades (doenças
associadas, como hipertensão e colesterol elevado). É preciso disseminar a
informação sobre o risco cardiovascular no diabetes. Há muito a ser feito pelo
poder público, pela mídia, pelas entidades médicas e de pacientes.
Mas você que tem DM2 também precisa fazer a sua parte.
Assuma o desafio de cuidar do seu tratamento de forma global:
- Adote uma alimentação mais saudável
- Pratique uma atividade física regular
- Procure uma equipe de saúde competente e comprometida, capaz de orientá-lo para o autocuidado
- Monitore sua glicemia constantemente e faça exames médicos regulares para rastrear as complicações
- Lute pelo acesso a tiras de teste, medicamentos mais adequados e um atendimento médico de melhor qualidade.
Aí o coração vai agradecer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário