terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Depressão de Natal??



Com o ano de 2019 quase no fim, confesso que bateu aquela preguiça de escrever por aqui. Mas exatamente por conta disso, comecei a pensar em um dos mitos e pensamentos recorrentes dessa época de festas. Será mesmo que o período de Natal e Réveillon, ao gerar tantas manifestações de fraternidade, generosidade, gratidão etc. etc. , pode trazer depressão ou aumentar os casos de episódios depressivos?
Segundo a ciência, existe sim um tal de “blues natalino”, que é um tipo de transtorno afetivo sazonal. Uma parte da população do planeta apresenta episódios depressivos recorrentes em determinada época do ano. Nada a ver com quem não tolera Carnaval ou não gosta do próprio aniversário.  Esses transtornos sazonais são de fato mais comuns no final do ano. Detalhe: esse transtorno ocorre principalmente no Hemisfério Norte, devido à redução da luz solar característica do período de inverno, que provoca variações hormonais associadas à depressão.  Claramente, não é um problema no Brasil, por mais chuvosa que possa ser a chegada do Natal e Ano Novo.
Assim, fora os citados transtornos sazonais mais ligados a invernos rigorosos, não há evidências de que as festas de final de ano levem algumas pessoas à depressão. Até porque depressão é uma doença séria e crônica, que normalmente leva meses ou mesmo anos para se instalar. O que ocorre em geral é que a época, por representar um fechamento de ciclo e incitar a reflexão sobre o ano transcorrido, pode trazer certa insatisfação, gerando tristeza e melancolia.
Outros fatores fisiológicos podem estar associados a essas sensações: comida em excesso, consumo de álcool (que tem intensa associação com episódios depressivos), redução de sono e falta de exercício físico.
E o que isso tem a ver com diabetes? Tudo e mais um pouco. Na hora da autocrítica com relação ao período que se encerra, é inevitável que o diabetes esteja presente entre as preocupações, satisfações e angústias. Como conduzi meu tratamento? Estou me cuidando adequadamente? Fiz tudo que estava ao meu alcance? Essas são reflexões e questionamentos legítimos e essenciais, pois levam ao crescimento e ao aprimoramento do autocuidado.
O que não vale é cair nas lamentações. “Sofrer” por ter diabetes, por “se privar” de coisas nas festas, por se sentir “diferente”, “amaldiçoado” ou coisa do gênero.
Claro que nessas horas não ajuda em nada aquela prima que fala: “mas você pode comer isso?”. Ou a cunhada que, diante da mesa de doces, traz um pedacinho de melão “especialmente para você”.
Sim, é uma época de excessos. Mas para todo mundo. E os cuidados que você deve ter com a alimentação são os mesmos de todo mundo. Sim, nunca é demais lembrar: os cuidados que você tem com o diabetes, especialmente no que diz respeito à alimentação, são os mesmos que TODOS deveriam ter.
Pode ser que você enfie o pé na jaca no Natal e talvez de novo no Réveillon. Você e todos os outros.  Mas pode ser também que exatamente por ter diabetes você tenha mais consciência do que come, do que bebe e consiga se sair melhor diante de tantos excessos anunciados.  Talvez por ter mais consciência da alimentação e de como isso interfere na sua saúde você se saia melhor nessas festas de fim de ano. Não ganhe quilos a mais. E até consiga comer aquele pedaço de pudim sem fazer um estrago na glicemia.
O importante é não cair na onda do diabetes blues, não deixar que surja um desconforto ou angústia por causa do diabetes. Também não vale confundir as coisas. Se a melancolia aparecer, avalie se o problema está em outros lugares que não o diabetes.
No mais, FELIZ NATAL!

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

De bem com a vida. E com o coração.


Ser otimista faz bem para a saúde. Não é mito popular, é o que diz a ciência: estudo publicado em setembro no periódico americano JAMA Network Open concluiu que ter uma atitude otimista perante a vida reduz a ocorrência de eventos cardiovasculares (como infarto e AVC) e a morte por todas as causas.
O estudo – realizado pela conceituada Icahn School of Medicine do hospital Mount Sinai, de Nova York – é uma meta-análise, ou seja, analisou dados de 15 pesquisas sobre o assunto, envolvendo perto de 230 mil pacientes, acompanhados por em media 13,8 anos.
Os resultados são categóricos: otimismo diminui a ocorrência de problemas do coração em nada menos do que 35%! E a redução do risco de morte por todas as causas entre os mais animados é de 14%.
Segundo o líder da pesquisa, o dr. Alan Rozanski, os resultados mostram que “o otimismo é também um importante fator de saúde que ainda não foi bem estudado”. Jeff Huffman,  do Hospital Geral de Massachusetts, em Boston, lembra que esses achados “são consistentes com uma crescente e ampla literatura que mostra que o otimismo em particular e o bem-estar psicológico em geral têm uma associação independente com os resultados cardiovasculares e gerais da saúde”.
O que literatura científica ainda não conseguiu precisar é qual mecanismo fisiológico ligaria diretamente uma atitude positiva a uma vida mais saudável. Uma das hipóteses é que o otimismo seria capaz de reduzir o estado inflamatório do organismo, estado esse comprovadamente associado ao desenvolvimento de doenças.
Por ora, é possível afirmar que otimismo pode estar associado a melhores hábitos de saúde, como a prática de atividade física e alimentação equilibrada. Pessimistas em geral fumam mais, bebem mais e tendem a ser mais sedentários, dizem os pesquisadores. Para o Dr. Rozanski, os dados são consistentes com as evidências “de que os otimistas têm melhores habilidades para a vida e mecanismos de enfrentamento, incluindo uma tendência maior a adotar comportamentos pró-ativos que evitam problemas futuros. Os hábitos pró-ativos de saúde parecem fazer parte disso. ”
O próximo passo das pesquisas é descobrir se induzir otimismo (ou “tratar” o pessimismo) produz benefícios semelhantes à saúde. "Estudos futuros devem procurar definir melhor os mecanismos bio-comportamentais subjacentes a essa associação e avaliar o benefício potencial de intervenções projetadas para promover otimismo ou reduzir o pessimismo", afirmam os autores.

E o diabetes?
Claro que tudo que contei acima leva à conclusão de que devemos ser otimistas. Quem tem diabetes, a rigor, deveria procurar mais ainda essa atitude positiva, para evitar os riscos cardiovasculares.
Mas quem se percebe diariamente com uma condição crônica, que exige tantos cuidados e preocupações, pode nem sempre conseguir manter o otimismo. Como lidar com o chamado diabetes distress, termo que descreve a angústia resultante do convívio com o diabetes e o ônus da incansável autogestão (tema para outro post)? 
Bem, volto aqui ao tema desse blog: sair do armário! Sim, porque a primeira atitude positiva a ser tomada frente ao diabetes é assumir a condição. É falar – sem vergonha, sem medo e sem preconceito – sobre todas as preocupações, dificuldades, dúvidas. Leia Porque estou aqui e Estigma.
Não precisa ser feliz e otimista PORQUE tem diabetes. Mas dá para ser feliz e otimista APESAR do diabetes.


Referência:
Rozansky A et al. Association of Optimism With Cardiovascular Events and All-Cause Mortality: A Systematic Review and Meta-analysis. JAMA Netw Open. 2019;2(9):e1912200.d Meta-analysis. JAMA Netw Open. 2019;2(9):e1912200.

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

O peso do mundo


Em 2025, estima-se que 2,3 bilhões de pessoas no planeta estarão acima do peso. Os obesos somarão 700 milhões. No Brasil, segundo dados da pesquisa Vigitel de 2018, a obesidade atinge 41 milhões de pessoas – quase 20% da população.
Neste 11 de outubro, Dia Mundial da Obesidade, mais uma vez entidades nacionais e internacionais se unem para alertar sobre os perigos desta que é uma das maiores doenças dos tempos atuais – se não a maior. A SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) encabeça a campanha no Brasil, que tem como objetivo “estimular e apoiar ações práticas que ajudarão as pessoas a alcançar e manter um peso saudável e reverter a crise global da obesidade”.
Já escrevi aqui sobre a relação entre obesidade e diabetes tipo 2 (leia Cinturinha de pilão?) e sobre o estigma que ronda as duas condições (leia Respeito é bom). Mas entra ano, sai ano e o problema persiste. Ou piora. Desde 1975, o número de obesos no mundo quase triplicou. No Brasil, o aumento foi de 60% nos últimos 12 anos.
Daí a importância de datas e ações como as que vão acontecer esta semana para conscientizar as pessoas. Nunca é demais lembrar que obesidade é uma doença crônica que, segundo a Organização Mundial de Saúde, está associada a outras 195 complicações – doenças cardiovasculares (pressão alta, dislipidemia, insuficiência cardíaca e embolia pulmonar), asma, esteatose hepática (gordura no fígado), apneia do sono e até alguns tipos de câncer, além do diabetes, é claro. Sem contar que pode diminuir a expectativa de vida em até 10 anos.
Como uma doença crônica, a obesidade requer tratamento adequado e contínuo. O pilar desse tratamento é a mudança de estilo de vida, com a prática regular de atividade física e a adoção de um plano alimentar saudável (maior consumo de frutas, verduras e legumes; restrição aos alimentos ultraprocessados e às bebidas açucaradas, maior consumo de água). Mas também pode se fazer necessário o uso de medicamentos, cirurgias e/ou acompanhamento psicoterápico.
Não é fácil tratar a obesidade. É uma condição complexa, influenciada por fatores genéticos, fisiológicos, metabólicos, sociais, ambientais e psicológicos. E cercada de tantos mitos e preconceitos.
Por isso, neste Dia Mundial da Obesidade, tomo a liberdade de reproduzir aqui o Manifesto da campanha da SBEM. Leiam abaixo:

OBESIDADE: EU TRATO COM RESPEITO
Tratar a obesidade com respeito implica disseminar informações sobre o assunto de maneira responsável, checando suas referências. É deixar o sensacionalismo de lado ao abordar o tema. É não dar destaque a dietas milagrosas que colocam em risco a saúde e a vida das pessoas. Tratar a obesidade com respeito é respeitar o paciente com obesidade. Respeitar a sua condição, é não reforçar a ideia errada de que a obesidade é culpa de quem tem.
Tratar a obesidade com respeito é reconhecer que ela é uma doença crônica multifatorial.
Tratar a obesidade com respeito é investir na criação de políticas públicas de prevenção e tratamento, investir em protocolos e diretrizes junto às sociedades do setor para atender da melhor maneira o paciente com obesidade, tanto no âmbito público quanto no privado. É investir no acesso ao tratamento multidisciplinar.
Tratar a obesidade com respeito é integrar o tema aos currículos das escolas de medicina e de outras profissões ligadas ao atendimento do paciente com obesidade. É investir em atualização contínua desses profissionais. Tratar a obesidade com respeito é respeitar a ciência e suas descobertas, e apoiar estudos na área. É reconhecer a necessidade do acesso ao tratamento completo, que pode, sim, incluir medicamentos, como em qualquer doença crônica. É considerar a cirurgia bariátrica como parte do tratamento, quando necessário.

Saiba mais:
World Obesity Federation: www.worldobesity.org
Campanha Saúde Não se Pesa: https://www.saudenaosepesa.com.br 


segunda-feira, 5 de agosto de 2019

A culpa nem sempre é do carboidrato


Comer proteína e gordura também afeta a glicemia. Pronto, falei!!
Tá achando que é pegadinha? Afinal, durante anos você ouviu dizer que são os carboidratos que fazem subir as taxas de açúcar no sangue. Aposto que no diagnóstico você reduziu ou mesmo tentou parar de consumir batata, pão, torta, macarrão – sem contar os doces, é claro. Mas na hora daquele churrasco na casa do seu cunhado, dá para relaxar. É só não comer pão nem farofa que está tudo bem, a glicemia fica sob controle.
Só que não... Quer dizer, a história não é bem assim.
O assunto é tão relevante e atual que virou tema de uma Nota Técnica do Departamento de Nutrição da Sociedade Brasileira de Diabetes, lançada no último mês de junho. Vale ressaltar que o documento da SBD é dirigido para pessoas com diabetes tipo 1 que seguem a chamada contagem de carboidratos, ou seja, que calculam a dose de insulina que vão aplicar com base na quantidade de carboidrato ingerida a cada refeição.  Mas não se engane: o documento é também de crucial importância para quem tem diabetes tipo 2, especialmente por trazer a público informações embasadas e esclarecedoras.
O que informa a nota? Diversos estudos comprovam que gordura e proteína também podem interferir no perfil glicêmico pós-prandial, ou seja, nos níveis de açúcar do sangue depois das refeições. Lembrando que essa hiperglicemia pós-prandial está fortemente relacionada ao aumento da hemoglobina glicada e, portanto, do risco de complicações futuras.
Como acontece?
Com relação à proteína, em geral o consumo traz um efeito tardio sobre a glicemia (mais de 100 minutos depois da comer). Mas a resposta vai ser distinta dependendo se, na refeição, estiver ou não acompanhada de carboidrato. Estudo citado na Nota Técnica do Departamento de Nutrição da SBD mostra que, em uma refeição sem carboidrato, o aumento da glicemia acontece se forem consumidos mais do que 75 gramas de proteína (aproximadamente 300 gramas de carne). Já em uma refeição com carboidrato, 30 gramas de proteína (cerca de 150 g de carne) já são suficientes para que a glicemia suba mais do que apenas a elevação relacionada ao carboidrato.
Já a gordura, normalmente consumida junto com outros nutrientes, tem a capacidade de alterar a resposta glicêmica do carboidrato. Na verdade, torna mais lento o esvaziamento gástrico e, consequentemente, a absorção da glicose. Mas isso não é bom? Nesse caso, não. A gordura minimiza o efeito da glicemia no pós-prandial (2 horas depois da refeição), mas provoca hiperglicemia ao longo das horas seguintes. Essa hiperglicemia tardia pode perdurar por horas. Imagine que na sexta-feira à noite você comeu pizza. Conferiu a glicemia duas horas depois e estava tudo certo. Foi dormir sem preocupação. Na manhã seguinte, porém, vem a surpresa da hiperglicemia. A gordura da pizza faz com que o carboidrato demore mais para chegar ao sangue. E, quando chega, vem com tudo.
Parece complicado, não é? Ainda mais porque a resposta glicêmica ao consumo de gordura e/ou proteína é INDIVIDUAL.
Mas a solução não é começar a fazer contas, muito menos parar de comer. O que deve servir de lição nessas conclusões da ciência é que não há uma “receita de bolo” muito menos uma fórmula mágica para deixar a glicemia sob controle.  Faça você uso de insulina ou de medicação oral, a saída está no equilíbrio. Embora as dietas low carb (assunto para outro post) possam ter algum efeito no controle da glicemia, não é simplesmente cortando carboidrato do seu plano alimentar que tudo está resolvido. Equilíbrio, repito, é fundamental.
Uma das recomendações do documento da SBD é que, diante de uma refeição com mais gordura e/ou proteína, deve-se intensificar a monitorização da glicemia, especialmente pós-prandial (2, 3 e 5 horas depois da refeição). Sabendo o que acontece particularmente com o seu organismo diante de refeições com esse perfil, fica mais fácil estabelecer uma estratégia para tais situações. Converse com o médico e o nutricionista para saber qual conduta pode ser adotada.
Como bem lembra também a Nota Técnica, a educação é sempre a ferramenta para otimizar a aderência à terapia nutricional, tornando possível à pessoa com diabetes compreender a importância e a influência dos diferentes tipos de alimentos na chamada “homeostase glicêmica” (níveis de açúcar dentro dos padrões adequados) e, consequentemente, na prevenção de complicações de curto e longo prazo.  


Para saber mais:

Sociedade Brasileira de Diabetes: www.diabetes.org.br

terça-feira, 23 de julho de 2019

Glicemia sob controle por mais tempo


A hemoglobina glicada tem sido usada desde o início dos anos 90 – mais precisamente a partir de 1993, após a publicação do famoso estudo DCCT (Diabetes Control and Complications Trial) – como parâmetro de controle do diabetes (leia "Hemo"...o quê?).

Há alguns anos, porém, com a disseminação do uso dos sistemas de monitoração contínua de glicose (CGM, do inglês continuous glucose monitoring), surgiu um jeito diferente de olhar a glicemia. E, com isso, um novo conceito para se estabelecer se os níveis de açúcar no sangue estão ou não como deveriam: o tempo no alvo (ou, em inglês, time in range). 
Ah, você já ouviu falar! Mas é coisa para diabetes tipo 1, certo? Nada disso. Tanto a monitorização contínua como o tempo no alvo (ou tempo na meta) são conceitos e práticas que podem ser bem úteis também para o DM2.
Falando primeiramente em monitorização contínua da glicemia. É aí que a mudança começa. Os aparelhos de monitorização contínua aferem a glicemia no fluido intersticial, ou seja, no líquido entre as células – portanto, é diferente da glicemia capilar, medida na ponta do dedo e que capta o sangue dos capilares sanguíneos (pequenos vasos periféricos, nada a ver com cabelos, ok?).
A tecnologia já existe há alguns anos, mas antes estava restrita aos usuários de bomba de insulina (Sistema de Infusão Contínua). Há cerca de 3 anos, chegou ao mercado o Free Style Libre, da Abbott, que pode-se dizer “popularizou” a monitorização contínua de glicose. Porque funciona de forma independente do tipo de tratamento utilizado. Ou seja, pode ser usado por quem usa bomba, insulina e/ou medicação.
Deixando claro aqui que a monitorização contínua não é um privilégio do Libre. Trata-se de uma tecnologia que veio para ficar e em breve estará disponível em outros devices também no Brasil.
O que a monitorização contínua traz de revolucionário é a possibilidade de se saber o que acontece com a glicemia O TEMPO TODO. Ou seja, mesmo entre aquelas medições tradicionais. Pense assim: a glicemia capilar, realizada na ponta de dedo com o glicosímetro, é uma “fotografia” do nível de açúcar no sangue; já a aferição com um aparelho de monitorização contínua é um “filme”. Outro diferencial do novo sistema é que aponta a tendência da glicemia (se está estável, caindo, subindo). Uma espécie de “possíveis cenas dos próximos episódios”, para usar a mesma imagem.
Vantagens para o controle? Diversos estudos têm atestado a melhora da hemoglobina glicada devido ao uso da monitorização contínua. E também para o DM2. Levantamento apresentado durante o último congresso da ADA (American Diabetes Association) e divulgado no mês passado mostra que pessoas com diabetes tipo 2 (média 63 anos de idade) tiveram redução de 1 ponto percentual nos níveis de hemoglobina glicada depois de 3 a 6 meses de uso da monitorização contínua. Lembrando que essa redução aconteceu sem que houvesse qualquer alteração no tratamento. Ajustes nas doses de insulina ou na medicação ocorreram, é claro. Mas o impacto mais sensível da monitorização contínua é sobre o comportamento da pessoa com diabetes. Porque evidencia o que acontece com a glicemia nas mais diversas situações. Traz, em síntese, autoconhecimento.
A monitorização contínua corrobora  o que médicos e demais profissionais de saúde que lidam com diabetes já sabiam na teoria: manter a hemoglobina glicada dentro da meta (até 7%) nem sempre significa um controle super eficaz. A HbA1C é a média da glicemia nos 3 meses passados. E, como média, pode ser obtida a custa de muitas oscilações entre hipos e hiperglicemias. Daí é que surge o conceito de tempo no alvo como forma de se estabelecer um controle ainda mais efetivo. Como o próprio nome diz, significa por quanto tempo no último mês, semana ou qualquer período selecionado – a pessoa permaneceu com as glicemias dentro da meta (normalmente entre 70 e 180 mg/dl). Quanto maior esse período no alvo, melhor.
A monitorização contínua permite que o tempo no alvo seja conhecido e que possa ser usado como parâmetro. O ideal é manter as glicemias na meta durante pelo menos 70% do tempo, o que equivale a ter uma hemoglobina glicada de 7% -- portanto, dentro do adequado para se evitar as complicações. Lembrando que as hipoglicemias (menos do que 70 mg/dl) devem estar presentes no máximo 4% do tempo. E as glicemias elevadas (mais do que 250 mg/dl) não devem ultrapassar 25% das taxas obtidas.
A monitorização contínua ainda não é acessível a todos, infelizmente. Usada ininterruptamente, tem custo de quase R$ 500,00 mensais. É possível experimentar apenas por um período (o sensor do FreeStyle Libre dura 14 dias), como uma espécie de avaliação para se detectar problemas no controle.
A expectativa é que novos dispositivos cheguem ao mercado, aumentando a concorrência e reduzindo o preço. E, principalmente, tornando possível para mais pessoas encontrar um controle glicêmico ainda mais acurado.

Para saber mais:




quarta-feira, 5 de junho de 2019

Insulina inalável chega ao Brasil. E o que isso tem a ver com você?


O assunto da semana no mundo do diabetes foi a aprovação da venda no Brasil da insulina inalável. O produto é fabricado pelas empresas Biomm e MannKind Corporation, foi aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e atende pelo nome de Afrezza.
Ok, você já leu as informações que circularam na mídia nos últimos dias e deve ter pensado que não tem nada a ver com você, porque “é coisa para diabetes tipo 1”. Engano!
Embora a própria mídia tenha destacado o novo produto como “mais indicado” para o DM1, eu particularmente acredito que a Afrezza possa ser sim um grande aliado no tratamento do diabetes tipo 2. Uma importante ferramenta para ajudar a mudar a situação atual da insulinização dos DM2 brasileiros, que não passam de 10%. (leia Insulina sem estigma - parte 1 e Insulina sem estigma - parte 2)
Por quê? Vejamos!
A nova insulina é aspirada por meio de um inalador, pequeno e discreto, o que facilita o uso do produto, especialmente nas chamadas situações sociais. A insulina inalável é vendido em pó, em cartuchos com doses fixas (4, 8 e 12 unidades) que são colocados no inalador. Um procedimento muito simples. Vantagem para o DM2: menos picadas, menor constrangimento social.
Ok, a insulina inalável apenas reduz. a necessidade de injeções, ou seja, não vai deixar você livre das agulhas. Isso porque a Afrezza é capaz de substituir só as aplicações de insulina rápida ou ultrarrápida. O chamado “bolus” para cobrir o carboidrato das refeições ou, se necessário, corrigir uma glicemia elevada. A insulina de longa duração e ação basal (NPH, glargina, degludeca, levemir) continua sendo administrada por injeção.
Pode não parecer, mas mesmo assim as vantagens são muitas. Boa parte dos DM2 insulinizados aplica apenas a insulina basal. Com a inalável, aumenta a chance de adoção de uma terapia plena, garantindo também o controle da glicemia nas refeições. Vale lembrar que a Federação Internacional de Diabetes (IDF - International Diabetes Federation), com base em diversos estudos científicos, considera a chamada hiperglicemia pós-prandial (depois da refeição) um fator independente de risco para a doença macrovascular (do coração), com impacto também no aumento do chance de desenvolver outras complicações, como retinopatia, câncer e comprometimento da função cognitiva.
A Afrezza, além de ser mais prática para uso na hora das refeições, apresenta – segundo o fabricante – a vantagem de ter uma ação mais rápida do que as demais do mercado. É absorvida rapidamente pela corrente sanguínea e começa a agir em 10 minutos, com pico de ação em 15 minutos, e um efeito que dura de 2 a 3 horas. Isso significa mais eficiência para controlar a glicemia pós-prandial. Logo, menor risco.
Vale também lembrar que mesmo os DM2 que têm insulinização plena (com insulina basal e bolus) costumem “pular” exatamente as doses de insulina nas refeições -- seja para evitar as injeções ou porque consideram "desnecessário". O esperado é que a insulina inalável ajude a mudar essa atitude.
Mas nem tudo são flores. A Afrezza é contra-indicada para fumantes e aqueles com problemas pulmonares crônicos. Além disso, quem quiser usar a nova insulina inalável deve fazer anualmente o exame de espirometria, que avalia a capacidade pulmonar.
O preço – sempre um problema – ainda não está definido, mas muito provavelmente o novo medicamento não será acessível a todos. A limitação das dosagens disponíveis pode ser outra desvantagem, exatamente porque não permite flexibilização das doses de acordo com a necessidade do tratamento.
O produto deve estar disponível no final deste ano. Até lá, vale conversar com o médico/equipe de saúde para saber se a Afrezza pode ser uma boa opção para o seu tratamento. Lembre-se sempre de que tratar o diabetes tipo 2, mantendo a glicemia no alvo durante a maior parte do tempo, garante vida saudável por mais tempo.


quarta-feira, 29 de maio de 2019

Estudo mostra epidemia silenciosa de diabetes no Brasil


Um a cada cinco brasileiros pode ter diabetes sem saber. É o que mostra estudo realizado pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF) e divulgado no final do mês passado. O levantamento constatou a prevalência de 18,4% de pessoas com glicemia elevada sem diagnóstico prévio de diabetes. Mais: entre os avaliados, 22,6% mostraram um risco alto ou muito alto de desenvolver a disfunção nos próximos 10 anos.
O Rastreamento de Casos Suspeitos de Diabetes Mellitus: Novembro Diabetes Azul 2018 – que contou com o apoio da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) – investigou 17.580 pessoas, de todas as regiões do país, entre 14 de novembro e 12 de dezembro do ano passado.
Participaram do estudo cerca de mil farmacêuticos de farmácias (77,84% privadas) localizadas em 345 municípios do país. Na amostra, prevaleceram as mulheres (60%) e aqueles com menos de 45 anos (48%). A maior parcela da população pesquisada possuía 11 anos ou mais de estudo. Apenas 4,6% dos participantes não eram alfabetizados.
O resultado é novidade? Nem tanto. É sabido que o diabetes tipo 2 é um mal silencioso, que quando instalado pode só dar sinais lá na frente, com as complicações já avançadas. Vale ressaltar que o resultado poderia ser ainda mais devastador se a prevalência dos entrevistados fosse de pessoas mais velhas e com menor escolaridade.
O levantamento do Conselho Federal de Farmácia, ao mostrar o risco de desenvolvimento futuro do diabetes na população, também dá pistas do que pode ser observado e corrigido. Os participantes – que além da glicemia capilar mediram circunferência abdominal, peso e altura – foram submetidos ao Finnish Diabetes Risk Score (FINDRISC), instrumento internacional de avaliação de risco de desenvolvimento do diabetes. Os fatores de risco mais presentes foram o sedentarismo (68%), a não ingestão diária de verduras e frutas (43%) e o histórico familiar (37%). Sim, a herança genética pesa, mas não é o fator de risco preponderante.
Segundo o presidente do CFF, Walter da Silva Jorge João, agora a entidade pretende levar os dados aos diferentes gestores de saúde do país, “para que essas informações levantadas se revertam em medidas que possam de fato beneficiar a população”.
O que precisa ser feito? Mais do que tudo, são necessárias políticas públicas para aumentar o rastreamento e diagnóstico do diabetes no país. São necessárias mais campanhas de detecção, mais pedidos de testes de glicemia pelos médicos das UBS e convênios médicos, é preciso lutar para que o teste de glicemia faça parte do protocolo de atendimento para todas as pessoas que procuram serviços de urgência/emergência, seja por qual motivo for.
Ao cidadão, cabe não se esquecer dos exames de rotina e se conscientizar que saúde é prevenção. E você que já tem diabetes também pode ajudar a mudar esse cenário. Observe amigos, colegas, parentes. Aqueles com histórico familiar, que estão acima do peso e principalmente sedentários são sérios candidatos a desenvolver o DM2. Fale sobre a sua condição. Sobre a importância do diagnóstico precoce para evitar complicações. Mostre que o diabetes tipo 2 é mais comum do que se imagina, mas não é um bicho de sete cabeças: pode ser controlado de forma a garantir uma vida saudável.


terça-feira, 9 de abril de 2019

Medicamentos também precisam de cuidados


No último post, falamos aqui sobre os agentes antidiabéticos (medicamentos) existentes no mercado brasileiro. Certamente, a medicação é um dos pilares do tratamento do diabetes tipo 2.
Mas, depois de decidido junto com o médico o remédio mais indicado para o seu diabetes, alguns outros cuidados são necessários. Sim, é preciso cuidar bem do seu medicamento! Porque pequenos detalhes podem fazer grande diferença no controle da glicemia.
Como? Veja as orientações a seguir.
  • ·       Pode parecer óbvio, mas só use medicamentos receitados pelo seu médico. Não vale o remédio “infalível” do vizinho nem a “pílula mágica” que você viu na internet.
  • ·       Óbvio também: tome a medicação de acordo com o indicado pelo médico. Ok, você tem inúmeras pílulas para ingerir, de manhã, na hora do almoço, à noite... Mas não adianta, por exemplo, tomar tudo de uma vez para “ficar livre”. Cada medicamento tem um mecanismo de ação, muitas vezes dependente do horário de ingestão.
  • ·       Esqueceu de tomar? Se está próximo do horário, pode ingerir normalmente. Se estiver próximo do horário seguinte, não tome, para não dobrar a dosagem ingerida.
  • ·       Informe seu médico sobre os outros medicamentos que você toma. Assim, é possível prevenir interações indesejáveis.
  • ·       Tem dúvidas? Pergunte ao médico, ao farmacêutico ou a qualquer membro da sua equipe de saúde sobre a ação do medicamento, efeitos colaterais, interação com outros remédios. Informação é fundamental.
  • ·       Tenha sempre à mão a última receita médica. Pode ser uma cópia, para não perder a original.
  • ·       Informe-se com seu médico e equipe de saúde o que fazer caso você não você tenha que ficar sem se alimentar. Pode ser jejum por causa de um exame de sangue ou algum mal-estar que lhe impeça de comer adequadamente. Lembre-se de que alguns medicamentos podem causar hipoglicemia.
  • ·       Tome o medicamento sempre com água. Essa é a recomendação padrão. Se você não consegue, pergunte ao seu médico se aquele remédio em particular pode ser ingerido com suco ou leite. Mas atenção: com bebida alcoólica, NUNCA.
  • ·       Só retire o medicamento da embalagem original na hora de ingerir. O local onde são acondicionadas as pílulas é cuidadosamente planejado para conservar as propriedades do fármaco. Alguns, por exemplo, são sensíveis à luz e podem perder propriedades se expostos. Aquelas caixinhas de remédios são bárbaras para evitar esquecimentos. Mas se as pílulas ficarem lá todas misturadas, pode ser problema. Se você quiser separar os remédios por dia ou horário, recorte as cartelas preservando o invólucro das pílulas.
  • ·       Mantenha os medicamentos em local arejado, longe de fontes de calor e luz intensa (janelas, eletrônicos, em cima da geladeira, micro-ondas, aparelho de televisão). Também evite locais úmidos, como o banheiro ou a pia da cozinha. E não guarde com alimentos ou próximos a produtos de limpeza e perfumaria
  • ·       Não deixe os medicamentos ao alcance de crianças e animais domésticos.
  • ·       Na hora de transportar, leve em consideração as orientações acima, ou seja, evite expor os medicamentos ao calor e à umidade. Carregue suas pílulas sempre com você. Nunca deixe no carro, pois a temperatura pode ser mais elevada do que o recomendado. Em viagens, leve perto de você (na bolsa de mão, nunca no porta-mala ou bagageiro do carro/avião).
  • ·       Não jogue os medicamentos vencidos no lixo nem em vasos sanitários. Leve para a farmácia mais próxima.


E a insulina?
Sim, a insulina exige ainda mais cuidados na hora do armazenamento e transporte. Segundo recomendações da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), a insulina deve ser armazenada em geladeira doméstica, entre 2 e 8ºC. Para isso, precisa ser armazenada nas prateleiras do meio ou inferiores ou ainda na gaveta de verduras. Congelador, nem pensar (se congelada, a insulina DEVE ser descartada).
O ideal é deixar o frasco longe de portas e paredes do refrigerador, manter na embalagem original (a caixinha) e dentro de um recipiente de plástico ou metal, com tampa. Isopor não pode, porque é isolante térmico e vai deixar o “fresquinho” da geladeira longe da insulina.
Isso vale para a insulina de reserva. A insulina em uso não precisa de refrigeração, desde que mantida abaixo dos 30 ºC. Se mantida na geladeira, deve ser retirada para temperatura ambiente pelo menos 15 minutos antes da aplicação. Canetas recarregáveis (com refil) não podem ser mantidas na geladeira, porque o frio pode causar danos ao mecanismo do dispositivo. Importante: em qualquer caso, insulina aberta dura entre 4 e 8 semanas (veja as recomendações do fabricante), independentemente da data de validade do frasco. Dica: quando abrir um frasco ou refil novo de insulina, anote a data. Assim você não corre o risco de usar o produto além do tempo recomendado, o que pode trazer resultados não desejados.
E na hora de transportar a insulina? Se for o frasco ou caneta em uso, a preocupação se resume a evitar exposição em locais muito quentes. Já a insulina de reserva pode ser transportada em embalagem térmica, tomando o cuidado para que não entre em contato direto com o gelo ou similar, quando usado. Em viagens, independentemente da forma e do tempo, a insulina sempre deve ser transportada na bagagem de mão.
Reiterando: insulina ou medicamento mal conservados podem ter uma ação diferente da esperada e desejada. Por isso essas orientações são tão importantes. Não deixe seu controle glicêmico ser afetado por um problema simples de contornar.

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Controle em pílulas


 O tratamento farmacológico do diabetes tipo 2 tem como base os medicamentos, tecnicamente chamados de agentes antidiabéticos – não mais conhecidos como “antidiabéticos orais” porque, na verdade, hoje alguns deles são injetáveis. Mas, no geral, é com essas pílulas – algumas bem grandes! – que tem início o trabalho fisiológico para controlar a glicemia.
Com o avanço da tecnologia, existem no mercado inúmeras drogas para tratar o DM2. E frequentemente o paciente precisa tomar dois ou mesmo três medicamentos diferentes. Por que tantos remédios? Porque o diabetes tipo 2 é uma disfunção multifatorial. Ou seja, a alteração de glicemia pode ser causada por fatores diversos (leia.Não é pouca ciosa). Todos os agentes antidiabéticos têm por objetivo final melhorar a glicemia. Mas existem especificidades, ou seja, cada um atua de forma a corrigir um dos erros de metabolismo que causam o descontrole glicêmico. Dá para dizer que um DM2 não é igual ao outro. E o “coquetel” de medicamentos vai variar de paciente para paciente.
O médico – e somente ele – é o profissional que vai determinar qual (quais) remédio (s) é melhor para o seu caso. O que é feito dentro de certos critérios, no caso do Brasil definidos pela Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD):
  •        Estado geral, peso e idade do paciente.
  •     Comorbidades presentes (complicações do diabetes ou outras, como hipertensão e dislipidemia).
  •     Valores das glicemias de jejum e pós-prandial, bem como da hemoglobina glicada.
  •      Eficácia do medicamento.
  •      Risco de hipoglicemia.
  •      Possíveis interações com outros medicamentos, reações adversas e contraindicações.
  •         Custo. 
  •          Preferência do paciente.

Além disso, no final da década passada o FDA (Food and Drug Administration) – agência dos Estados Unidos que regula a produção e comercialização de medicamentos –, passou a exigir que, para liberação, os agentes antidiabéticos comprovem não apenas a eficácia em reduzir a glicemia, mas também a segurança cardiovascular. Vários estudos começaram então a ser feitos com esse objetivo. E qual não foi a surpresa ao se constatar que alguns desses agentes antidiabéticos além de  seguros também traziam uma redução do risco do desenvolvimento de problemas no coração.
Como informação nunca é demais, vale saber como atuam os medicamentos para diabetes que estão no mercado. Assim você pode discutir com o médico a conveniência/necessidade de mudar e/ou acrescentar mais um agente ao seu tratamento, caso você não esteja conseguindo atingir a meta de glicemia com o esquema terapêutico atual.

Classes de medicamentos:

Sulfonilureias
Ação: Aumento da secreção de insulina
Princípios ativos: clorpropamida (Diabinese), glibenclamida (Daonil), glipizida (Minidiab), gliclazida (Diamicron), glimepirida (Amaryl).    
Prós: O custo é baixo e, em sua maioria, está disponível para dispensação no SUS. Estudos mostram que a glicazida reduz o risco cardiovascular em 10% e aumenta a proteção renal em 84%.
Contras: hipoglicemia e ganho de peso (maior risco com clorpropamida e glibenclamida, menor com a glicazida).

Metiglinidas
Ação: Aumento da secreção de insulina
Princípios ativos: repaglinida (Prandin, Novonorm), nateglinida (Starlix).
Prós: ação rápida; maior flexibilidade.
Contras: hipoglicemia e ganho de peso

Biguanidas
Ação: Aumento da sensibilidade à insulina. Redução da produção de glicose pelo fígado.
Princípio ativo: metformina (Glifage)
Prós: Medicamento antigo, portanto largamente testado.
Contras: Desconforto abdominal, diarreia e náusea (menor na versão XR, de liberação prolongada). Deficiência de vitamina B12. Risco de acidose lática (raro).

Inibidores da alfa-glicosidase
Ação: Retardo da absorção de carboidratos
Princípio ativo: acarbose (Glucobay).
Prós: Redução da glicemia pós-prandial. Melhora do perfil lipídico.
Contras: gases, flatulência e diarreia.

Glitazona
Ação: aumento da sensibilidade a insulina (músculo, fígado e tecido muscular)
Princípio ativo: pioglitazona (Actos, Stanglit)
Vantagem: Melhora do perfil lipídico. Redução de gordura do fígado (esteatose hepática). Redução de triglicerídeos.
Desvantagem: Retenção hídrica, anemia, ganho de peso, insuficiência cardíaca e aumento de risco de fraturas.

Gliptinas (inibidores da DPP-4)
Ação: Estimula as células beta do pâncreas, na presença de glicose, a aumentar a síntese de insulina e reduzir a produção de glucacon
Princípios ativos: sitagliptina (Januvia), vildagliptina (Galvus), saxagliptina (Onglyza),  linagliptina (Trayenta), alogliptina.
Prós: segurança cardiovascular, redução da hemoglobina glicada sem hipoglicemias ou aumento de peso.
Contras: Angioedema (inchaço em algumas regiões do corpo, como lábios) e urticária. Possibilidade de pancreatite aguda. Possível aumento das internações por insuficiência cardíaca.

Análogo (agonistas) do GLP-1
Ação: Aumento do nível da enzima GLP-1, com aumento da síntese e secreção de insulina, além da redução na produção de glucagon. Retardo do esvaziamento gástrico. Aumento da saciedade.
Princípios ativos: exenatida (Byetta), liraglutida (Victoza), lixisenatida (Lyxumia).
Prós: Redução de peso. Redução da pressão arterial sistólica. Melhora da glicemia pós-prandial.  Redução de eventos cardiovasculares e mortalidade em pacientes com DCV (liraglutida).
Contras: Injetável. Hipoglicemia, principalmente quando associado a secretagogos. Náusea, vômitos e diarreia. Aumento da frequência cardíaca. Possibilidade de pancreatite aguda.

Inibidores do SGLT2 (glifozinas)
Ação: Bloqueia a ação da proteína responsável pela reabsorção da glicose no rim, levando à eliminação do excesso de açúcar na urina.
Princípio ativo: dapagliflozina (Forxiga), empagliflozina (Jardiance), canagliflozina (InvoKana).
Prós: Rara hipoglicemia. Redução de peso. Redução dada pressão arterial. Redução de eventos cardiovasculares e mortalidade em pacientes com doença cardiovascular estabelecida.
Contras: Aumento da ocorrência de infecções genitais e urinárias. Poliúria (aumento da micção). Pressão baixa e confusão mental. Desidratação. Aumento do colesterol LDL. Aumento transitório da creatinina. Cetoacidose diabética.

Há ainda no mercado algumas combinações de medicamentos. Há misturas de biguanidas (metformina) com sulfoniureias (glibemclamida ou glimipirida) e com glipitinas. Também existem associações de insulinas de longa duração (glargina e degludeca) com agonistas de GLP1 (liraglutida e lixisenatida), na mesma injeção. O objetivo das associações é obter o “melhor de dois mundos”, ou seja, potencializar os efeitos dos dois fármacos em um mesmo produto, melhorando a eficácia e, sobretudo, facilitando a adesão ao tratamento.

Se você está fora da meta de glicemia e hemoglobina glicada, pode ser o caso de mudar ou acrescentar um novo agente antidiabético ao seu esquema terapêutico. Mas reitero: CONVERSE COM O SEU MÉDICO. Não vale passar a usar aquele “remédio milagroso” que seu vizinho começou a tomar e deu um resultado “super bom”. É lugar comum, mas sempre é bom lembrar que “cada um é cada um”. O que serve para o seu vizinho pode ser desastroso para o seu tratamento.

Mas não vale também estagnar, ficar conformado com uma hemoglobina glicada de 9% ou uma glicemia pós-prandial de 230 mg/dl. Há muita ciência na área de diabetes e é preciso aproveitar. Sua saúde agradece.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Quer remédio? Exercício e comida saudável


 A importância de se adotar um estilo de vida saudável, com alimentação equilibrada e atividade física regular, já se provou mais do que eficiente na prevenção e controle de doenças crônicas, entre as quais o diabetes tipo 2. O chamado “tratamento não medicamentoso” ganha força nos dias atuais, nos quais a população do planeta se mostra cada vez mais doente em função da epidemia de sedentarismo e consumo exacerbado de alimentos ultraprocessados.
Portanto, não é por acaso que algumas instituições pelo mundo – infelizmente ainda poucas – resolveram apostar fortemente nos hábitos saudáveis não apenas como coadjuvante no tratamento: comida saudável e exercício físico começam a ser prescritos como medicamentos.
Reportagem publicada recentemente na revista norte-americana Time fala sobre as iniciativas nesse sentido de alguns grupos de saúde dos Estados Unidos. O mais notável é o programa implementado pelo Geisinger Health Systems desde 2016. Chamado de Fresh Food Farmacy, se define como “uma nova abordagem da medicina que usa uma abordagem muito antiga” com o objetivo de capacitar os participantes a gerenciar suas condições de saúde a partir de mudanças de comportamentos.
Qual a novidade? Aqui, não se trata de recomendar uma dieta saudável ou prescrever um plano alimentar. O programa fornece alimentos saudáveis para os pacientes com diabetes tipo 2 e os ensina a incorporar esses alimentos no dia a dia. Os resultados impressionam: os atendidos reduziram as internações em 70% e mostram 40% menos riscos de complicações graves do diabetes.
A iniciativa do Geisinger Health Systems é, segundo a reportagem da Time, um exemplo de alguns dos programas existentes hoje no Estados Unidos que finalmente passaram a considerar a alimentação como elemento crucial do tratamento do diabetes. E usam os alimentos como remédios, com ação tão poderosa quanto a das drogas. Há casos de hospitais e clínicas que entraram em acordo com produtores locais de frutas, verduras e legumes para que concedam descontos para quem tem uma “prescrição” médica, com receita assinada e tudo, para o consumo desses alimentos.
Como diz o dr. Jaewon Rynm, CEO da Geisinger: “Priorizar a comida e ensinar as pessoas a preparar refeições saudáveis pode ser mais impactante do que as próprias medicações”. Mais: as empresas de saúde estão percebendo que usuários mais saudáveis não apenas vivem mais (e pagam por mais tempo) como visitam menos os pronto-socorros e hospitais.

Outra iniciativa notável vem da Europa, mais precisamente de Portugal. O país acaba de lançar um projeto-piloto para prescrever, em 14 hospitais de rede pública, a prática de atividade física como tratamento complementar para doentes crônicos. Os pacientes terão plano de exercícios individualizado e participarão de sessões de atividade supervisionadas. O programa deve beneficiar cerca de 3 mil pacientes em todo o país.
O Programa Nacional para a Promoção da Atividade Física terá ação multidisciplinar, com o envolvimento de médicos, educadores físicos, nutricionistas, fisioterapeutas, enfermeiros e psicólogos. Os resultados serão acompanhados durante 12 meses. E, se os ganhos forem positivos, como se imagina, o programa poderá ser expandido para outros hospitais portugueses.
Bons exemplos, não é mesmo? Vamos esperar que os resultados sejam de fato expressivos e possam inspirar cada vez mais profissionais e empresas em todo o mundo.


Saiba mais:

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Comida de mentira mata sim!

Artigo publicado recentemente pela revista científica JAMA (Journal of the American Medical Association) confirma o que já se sabia na prática: os alimentos industrializados para gerar um incremento de 14% no risco de mortalidade por todas as causas.
ultraprocessados fazem mal à saúde. Segundo o estudo, que acompanhou 44.550 mil adultos (acima de 45 anos) durante mais de 7 anos, basta um aumento de 10% no consumo desses produtos
O estudo mostra ainda que quem consome mais alimentos ultraprocessados são os mais jovens, com menor renda, nível educacional mais baixo, que moram sozinho, com maior IMC (Índice de Massa Corporal) e menor nível de atividade física.
Mas afinal o que são alimentos ultraprocessados? Bem, começando do começo: segundo o Guia Alimentar para a População Brasileira, documento lançado em 2014 pelo Ministério da Saúde, os produtos alimentícias podem ser divididos em quatro tipos, de acordo com o nível de processamento:
  • Alimentos in natura: aqueles obtidos diretamente das plantas ou animais, como folhas, frutas, legumes, ovos. São adquiridos para consumo sem que tenham sofrido qualquer alteração após deixarem a natureza.
  • Alimentos minimamente processados: são alimentos in natura que, antes de chegar ao mercado, foram submetidos a alterações mínimas.  São os grãos secos, polidos e empacotados ou moídos na forma de farinhas, raízes e tubérculos lavados, cortes de carne resfriados ou congelados e leite pasteurizado. Aqui também podem ser incluídos alguns produtos in natura ou extraídos diretamente da natureza e usados pelas pessoas para temperar e cozinhar, como óleos, gorduras, açúcar e sal.
  • Alimentos processados: produtos fabricados essencialmente com a adição de sal ou açúcar a um alimento in natura ou minimamente processado, como legumes em conserva, frutas em calda, queijos e pães.
  • Alimentos ultraprocessados: produtos cuja fabricação envolve diversas etapas e técnicas de processamento e vários ingredientes, muitos deles de uso exclusivamente industrial. Os exemplos clássicos são refrigerantes, biscoitos recheados, salgadinhos de pacote, margarina e macarrão instantâneo. A maioria dos ingredientes dos produtos ultraprocessados corresponde a aditivos que têm como função estender a duração dos produtos e dotá-los de propriedades atraentes (cor, aroma, sabor, textura)
A recomendação do mesmo documento do Ministério da Saúde é clara:
  •      alimentos processados: LIMITAR
  •         alimentos ultraprocessados: EVITAR

Por que limitar o consumo de alimentos processados? Embora o alimento processado mantenha a identidade básica e a maioria dos nutrientes do alimento original, ingredientes e métodos de processamento utilizados na fabricação alteram de modo desfavorável a composição nutricional. Em geral, o alimento perde água e sofre a adição de sal, açúcar ou óleo, quase sempre em quantidades significativas. Assim, o leite vira queijo, a frutas ganha calda, legumes são conservados em sal, peixes embebidos em óleo. Mas não precisa cortar os alimentos processados do seu plano alimentar. A proposta é limitar o consumo a pequenas quantidades, usando-os como ingrediente de preparações culinárias ou acompanhamento. Também vale consultar os rótulos, dando preferência aos produtos com menor teor de ingredientes nocivos.
Já com relação aos alimentos ultraprocessados, a regra é EVITAR. Por quê? Principalmente porque são nutricionalmente desbalanceados. Incluem quantidades excessivas de sal, açúcar e/ou gordura (em geral, aquelas do tipo pior para a saúde do coração) e, por outro lado, são pobres em fibras, vitaminas e minerais. Sem contar a presença de ingredientes sintetizados em laboratório de uso exclusivamente industrial.  Os tais aditivos, conservantes, estabilizantes etc. Em geral, também são altamente calóricos – no caso, calorias vazias.
Exemplos de produtos ultraprocessados? Vários tipos de biscoitos, balas, sorvetes, bebidas adoçadas (com açúcar ou adoçantes artificiais), pós para refrescos, embutidos, produtos congelados prontos para aquecer, produtos desidratados (como misturas para bolo, sopas em pó, tempero pronto), salgadinhos de pacote, cereais matinais, barras de cereal, bebidas energéticas, bebidas lácteas adoçadas e aromatizadas, entre muitos outros. Pães e produtos panificados podem ser tornar alimentos ultraprocessados quando, além da farinha de trigo, leveduras, água e sal, seus ingredientes incluem substâncias como gordura vegetal hidrogenada, açúcar, amido, soro de leite, emulsificantes e outros aditivos.

Dica importante: leia os rótulos e consulte a lista de ingredientes. Se forem cinco ou mais, desconfie. Especialmente se constar substâncias com nomes estranhos e não usadas em preparações culinárias (gordura vegetal hidrogenada, óleos interesterificados, xarope de frutose, isolados proteicos, agentes de massa, espessantes, emulsificantes, corantes, aromatizantes, realçadores de sabor). Nesse caso, fuja!
Em síntese, nada melhor do que comida de verdade.  A base da alimentação – já recomenda o Guia Alimentar para a População Brasileira – deve estar nos alimentos in natura ou minimamente processados. As dicas do Guia:
  • Tome água ou leite no lugar de refrigerantes e bebidas lácteas
  • Coma frutas ao invés de biscoitos recheados
  • Não troque a “comida feita na hora” (caldos, sopas, saladas, molhos, macarronada, refogados de legumes e verduras, farofas, tortas) por produtos que dispensam preparação culinária (“sopas de pacote”, “macarrão instantâneo”, pratos congelados prontos para aquecer, frios e embutidos, maioneses e molhos industrializados, misturas prontas para tortas)
  • Fique com sobremesas caseiras, dispensando as industrializadas
Em tempo: essas recomendações não são específicas para quem tem diabetes. Mas caem como uma luva para aqueles que já convivem com uma condição que, se não controlada, pode trazer riscos. Atenção inclusive para muitos produtos aparentemente saudáveis. Aquele bolo de fubá, receita consagrada da sua tia mineira, pode ser uma opção bem melhor do que o bolo diet industrializado. Moderação e bom senso, sempre.
E viva o arroz com feijão!

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Descontrole na pele


De repente, a glicemia começa a subir sem motivo. Você não abusou da comida e usou a dose de insulina de sempre. Mas os números passam a ser cada vez mais altos. Você aumenta um pouco a insulina. E nada.... O diabetes piorou? É preciso aumentar ainda mais as doses da medicação?
Pois é, pode não ser nada disso. Pode ser lipodistrofia. Já ouviu falar?
Lipodistrofia é uma alteração no tecido subcutâneo que surge em função de erros na aplicação de insulina. O tipo mais comum de lipodistrofia é a lipo-hipertrofia, quando há acúmulo de gordura nos locais mais frequentemente usados para a aplicação, formando nódulos endurecidos sob a pele, visíveis e/ou palpáveis, dolorosos ou não.
Sim, a pele pode ficar bem feia. Mas a lipodistrofia NÃO É um problema estético. É um problema de saúde. Porque provoca o descontrole da glicemia. Como funciona? A absorção de insulina nos locais com lipodistrofia é imprevisível. Em alguns casos, pode ocorrer hipoglicemia. Em geral, porém, a absorção é insuficiente e a glicemia sobe.
Isso quer dizer que muitas vezes, quando a glicemia está descontrolada, não significa que você comeu demais ou que a dose de insulina precisa ser modificada!
A lipo-hipertrofia acomete 56% das pessoas com diabetes tipo 2 que usam insulina. A boa notícia é que PODE SER EVITADA e revertida. Sim, porque as principais causas são falta de rodízio de locais de aplicação e reutilização de agulhas.
Sobre os locais de aplicação, vale relembrar:
  • Braços: face posterior, 3 a 4 dedos abaixo da axila e acima do cotovelo (considere sempre os seus dedos)
  • Nádegas: quadrante superior lateral externo.
  • Coxas: face anterior e lateral externa superior, 4 dedos abaixo da virilha e acima do joelho.
  • Abdome: regiões laterais direita e esquerda, 3 a 4 dedos distante do umbigo.



Acredite: não é frescura. A insulina só vai funcionar DE FATO quando aplicada nesses locais, que têm uma camada de gordura suficiente para que a agulha fique no tecido subcutâneo e não atinja o músculo.
No entanto, de nada adianta aplicar sempre no mesmo lugar.  Nada menos do que 98% das pessoas que desenvolvem lipo-hipertrofia não fazem o rodízio dos locais de aplicação.
O rodízio garante que o tratamento com insulina seja seguro e eficaz. E melhor se feito com planejamento. Segundo as Diretrizes 2017-2018 da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), é necessário considerar o número de aplicações por dia e as atividades diárias usuais. Algumas sugestões:
·         Divida cada local de aplicação recomendado em pequenos quadrantes. Dentro desses quadrantes, faça aplicações em sentido horário, separadas uma da outra por pelo menos 1 cm (cerca de um dedo).
·         Para quem faz múltiplas aplicações, vale fixar um local para cada horário (tipo braço pela manhã, abdome na hora do almoço etc.). Sempre seguindo, em cada local, o esquema de quadrantes descrito acima.
·         Para quem faz uma ou duas aplicações por dia, dá até para usar sempre o mesmo local, se você tiver uma preferência. Mas alternando o lado (esquerdo e direito) e seguindo o esquema dos quadrantes.
A ideia é que você volte a aplicar exatamente no mesmo ponto só a cada 14 dias, que é o tempo que a pele leva para cicatrizar totalmente.
Outra causa para o surgimento da lipo-hipertrofia é a reutilização de agulhas. Estima-se que, em todo o planeta, metade dos usuários de insulina use as agulhas mais de uma vez. Na média, o reuso chega a cinco vezes/agulha. Os motivos vão desde conveniência, economia, falta de insumo até preocupação ambiental.
A lipo-hipertrofia está presente em 70% das pessoas que fazem o reuso. O problema é que a agulha, quando utilizada mais de uma vez, sofre alterações na ponta, como perda de afiação e lubrificação, o que pode provocar obstrução, dor, desconforto e lesão na pele. Sem contar o aumento do risco de infecção, já que, uma vez utilizada, a agulha deixa de ser estéril.
Então, para evitar a lipodistrofia:
  • Faça rodízio dos locais de aplicação
  • Não reutilize agulhas
  • Examine o local da aplicação: veja se há alguma alteração de tecido, além de edema (inchaço), inflamação ou infecção. Em qualquer dessas condições, aplique em outro local.
  • Peça ao profissional da sua equipe de saúde que faça um exame minucioso dos locais em que você costuma fazer a aplicação.

Importante: se você constatou que está com lipodistrofia e vai mudar o local de aplicação, fique atento para o risco de hipoglicemia, já que em um tecido sem lesão a absorção de insulina será plena. Pode também ser necessário reduzir as doses aplicadas.
Intensifique a monitorização e cuide da sua pele, para garantir a qualidade do controle do seu DM2.


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