segunda-feira, 23 de julho de 2018

Insulina sem estigma - parte 2


No último post, começamos a falar sobre o uso da insulina no diabetes tipo 2. Lembramos de como médicos e pacientes tendem a postergar o início da insulinoterapia, com consequências que podem ser devastadoras.
Essa atitude é derivada principalmente da falta de informação, que leva ao estigma, aos medos. Também por parte dos profissionais de saúde. Sim, muitos médicos não têm informação suficiente sobre insulinas e se sentem inseguros para prescrever o tratamento para seus pacientes.
Educação é a chave. Só com informação adequada os profissionais de saúde podem recomendar o melhor tratamento. Só com informação adequada os pacientes conseguem gerenciar o diabetes e alcançar o bom controle. Sem estigma, sem crenças infundadas.
Quais são os medos que envolvem o uso da insulina?
Medo 1: dor
Esse é um medo construído lá na infância, quando a injeção é vista como castigo, punição. Quanto à dor propriamente dita, quem sou eu para menosprezar o sentimento alheio. Mas... você já tentou fazer uma aplicação? Hoje, há disponível no mercado seringas e canetas de aplicação com agulhas extremamente finas e curtas. Curtíssimas: as agulhas de canetas recomendadas têm comprimento de 4 mm! O que torna o desconforto da picada bem aceitável.
Medo 2: mudança de rotina (perda de qualidade de vida)
Hoje, existem canetas de aplicação de insulina muito fáceis de usar e transportar. São tão discretas que você não precisa ir a um local reservado para fazer a aplicação. Também há diversos tipos de insulina, que permitem maleabilidade no horário de aplicação. A insulinoterapia pode mesmo ser até mais simples do que tomar diversos comprimidos, cada um em um horário determinado. E quanto à qualidade de vida? Bem, além dos riscos, a glicemia constantemente elevada traz letargia, irritabilidade, indisposição. Tudo isso muda com o melhor controle glicêmico que pode ser
proporcionado pelo uso da insulina.
Medo 3: engordar
A insulina é um hormônio anabólico e, por isso, muitas vezes é associada ao ganho de peso. Mas sozinha, a insulina não faz nada. O que engorda é comida de mais e exercício de menos.  Esse mito existe porque, em geral, a insulina é prescrita para quem está com a glicemia descontrolada, o que pode causar perda de peso – quando o organismo não consegue usar a glicose que está no sangue, passa a metabolizar proteínas e gorduras para gerar energia. E quando a pessoa passa a tomar insulina, o controle melhora e os quilos perdidos voltam. A adoção da insulinoterapia aliada à alimentação equilibrada e prática regular de exercícios é a receita para não ter problemas com a balança.
Medo 4: causar dependência
Todos os seres humanos são dependentes de insulina. Não dá para viver sem ela. Simples assim. Quando o indivíduo com diabetes necessita de insulinização é porque não produz mais hormônio suficiente para manter a vida e a saúde. Não é dependência, é sobrevivência.
Medo 5: preconceito
Sim, existe preconceito contra injeções. E existe preconceito contra o diabetes, especialmente o tipo 2, visto como fruto de preguiça e descaso. Mas a melhor arma contra o estigma é a informação. Converse abertamente com as pessoas a seu redor sobre o diabetes. Conhecimento e diálogo ajudam a esclarecer dúvidas e derrubar mitos.
Medo 6: agravamento do diabetes
Esse é também um medo que advém da falta de informação. Muitas pessoas com diabetes tipo 2 começam a usar insulina depois de muito tempo de descontrole e, portanto, já com algumas complicações em curso. Daí, muitos associam a insulinização com o surgimento das complicações, quando na verdade a causa está na demora em iniciar com as injeções.
Medo 7: hipoglicemia
Esse é um receio fundamentado. O uso de insulina pode causar hipoglicemia, a queda no açúcar do sangue abaixo de 70mg/dL. A hipoglicemia tem sintomas desconfortáveis, como tremedeira, taquicardia, suor frio, tontura, confusão mental e tantos outros. Por isso mesmo, iniciar a insulinoterapia significa intensificar a monitorização. Significa também ter mais disciplina na alimentação (especialmente com horários). Principalmente, significa também aprender a se conhecer, identificar sintomas e prevenir riscos. E estar preparado para corrigir a hipoglicemia quando ela surgir. Como? Com uma fonte de açúcar simples, para que a glicemia possa subir de novo rapidamente. Exemplos: uma colher de mel, um copo de água com uma colher de açúcar, 200 ml de refrigerante não diet ou de suco de laranja concentrado.
Preparados para pelo menos pensar em encarar as injeções? Espero que sim.
Para encerrar, reitero o que disse acima: informação e educação são as armas para adotar a insulina como tratamento no DM2. Sem medo, sem vergonha, sem preconceito.

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