
Ter mais um medicamento à disposição para tratar qualquer
doença é sempre uma boa notícia. O diabetes tipo 2 é uma disfunção multifatorial,
com evolução distinta de indivíduo para indivíduo. Portanto, não tem uma
“receita de bolo” para ser controlado. Para cada pessoa, há um tratamento
adequado. Logo, com mais opções há maior chance de se chegar à terapia ideal.
A dapagliflozina é um medicamento da classe dos inibidores
de SGLT-2 (do inglês, cotranspotador sódio-glicose). Esse tal SGLT-2 é uma
proteína presente no rim responsável por reabsorver a glicose que é
filtrada antes que seja eliminada pela urina. Ao bloquear o SGLT-2, o
medicamento reduz essa reabsorção, aumentando a excreção de glicose e reduzindo
os níveis de açúcar no sangue.
Além de melhorar o controle da glicemia, os inibidores de
SGLT-2 mostraram uma apreciável vantagem adicional: reduzem o risco
cardiovascular, um dos principais “fantasmas” de quem tem diabetes
(leia E o coração padece e Falha na bomba).
No caso específico da dapagliflozina, o medicamento que vai
passar a ser oferecido pelo SUS, os benefícios foram estabelecidos pelo estudo
DECLARE-Timi 58, um grande ensaio clínico realizado entre 2013 e 2018 com mais
de 17 mil indivíduos de 33 países. Todos os analisados tinham diabetes tipo 2 e
mais histórico de doença cardiovascular ou múltiplos fatores de risco.
O estudo mostrou que a dapagliflozina, além de diminuir
significativamente a glicemia e a hemoglobina glicada, reduz as taxas de morte
por doença cardiovascular e de hospitalização por insuficiência cardíaca. Outro
benefício é que a proteção dos rins, reduzindo até mesmo progressão da doença
renal já instalada.
As boas notícias não param por aí. A dapagliflozina mostrou
queda da pressão arterial sistólica. E, por conta da maior excreção de glicose
pela urina (cerca de 50g a 90g por dia), pode ocorrer também redução de peso –
em média 2 a 3 kg.
Mas claro que existem efeitos colaterais. Exatamente por
causa da maior presença de glicose na urina, a dapagliflozina (e os demais
inibidores de SGLT-2) podem causar infecções genitais e no trato urinário, como
candidíase. E há um risco aumentado de cetoacidose para quem faz uso de insulina.
Se você ficou animado, acalme-se. Em primeiro lugar porque a
dapagliflozina só vai estar disponível no SUS, na melhor das hipóteses, em
outubro. Além disso, o médico é que vai determinar se esse é um medicamento
indicado para você. Sempre levando em conta o nível de hemoglobina glicada, o
risco de hipoglicemia, tolerabilidade e disponibilidade.
A indicação é que a dapagliflozina seja usada como segundo fármaco, normalmente em associação com a metformina.
Vale sempre lembrar que o diabetes tipo 2, como já disse acima, é uma doença
multifatorial que tem desenvolvimento distinto de indivíduo para indivíduo.
Portanto, a dapagliflozina pode ser ótima para seu vizinho, mas não para você.
A dapagliflozina é uma opção terapêutica adicional. Converse com seu médico.
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