A ideia de criar um blog sobre diabetes tipo 2 surgiu de
duas experiências que vivi ano passado (2017). Participei, em outubro, do I
Encontro de Pacientes e Blogueiros de Diabetes, promovido pela organização
Blogueiros da Saúde. Meu espanto: TODOS os blogs ali representados concentravam-se
majoritariamente (se não exclusivamente) no diabetes tipo 1. Em dezembro,
durante o congresso da IDF (International Diabetes Federation), em Abu Dhabi
(Emirados Árabes), assisti à palestra de Robin (Bob) Swindell, sobre Estigma e
Diabetes Tipo 2.
O estigma enfrentado no diabetes tipo 1 tem sido bastante
estudado, há tempos. Felizmente, o DM2 começou a ser alvo das pesquisas sobre o
tema. A experiência na Europa relatada por Bob Swindell é a mesma que percebo
por aqui: o DM2 é visto apenas como um assunto ligado à obesidade, um problema “menor”,
facilmente contornável com mudanças
no estilo de vida. Portanto, carrega todos os estereótipos reservados àqueles
acima do peso: preguiça, falta de força de vontade, falta de comprometimento. Além
do preconceito, por si só um enorme problema, esse entendimento traz barreiras
ao engajamento com a doença, ao autocontrole e, consequentemente, aos bons
resultados do tratamento.
Pesquisa realizada nos Estados Unidos pela dQ&A (Diabetes Questions and Answers) junto a mais de 5.400 americanos com
diabetes mostrou que, entre os DM2, 52% sentem estigma social pela sua
condição, traduzido na maioria das vezes na percepção de fracasso na sua responsabilidade
pessoal. Muitos dos entrevistados acreditam que o diabetes é visto como um
fardo para o sistema de saúde. E, pior ainda, como resultado de uma falha de
caráter. Consequências? Culpa, vergonha, constrangimento, isolamento.
O estudo da dQ&A
mostrou ainda que a pessoa com diabetes não apenas se sente estigmatizada, mas –
como eu disse acima – esse estigma atrapalha o controle da doença e a adoção de
hábitos saudáveis. Também afeta os relacionamentos sociais, pois torna mais
difícil para o DM2 falar sobre diabetes com amigos e familiares, fazer amigos,
aproveitar a vida plenamente, se sentir acolhido e apoiado para cuidar do
diabetes e até mesmo ter sucesso profissional (TODOS fatores citados pelos
entrevistados).
Recentemente, uma amiga disse ter ouvido do médico que se
ela não controlasse melhor o diabetes, ele iria “desistir dela”. Se alguém tem
uma infecção e o antibiótico não fez efeito, o médico também pensa em “desistir”??
A comparação pode parecer grosseira, sei que o controle do diabetes depende em
grande parte do engajamento do paciente, mas para isso ele precisa ser educado,
acolhido, orientado. E encorajado sim! Mas existe uma linha muito tênue
separando o encorajamento e a atribuição de culpa. Palavras são armas
poderosas. Pensamentos e ajuizamentos também. E podem ser usados para ajudar ou
não a pessoa com DM2. Mas isso é assunto para outro post.
Veja a apresentação de Bob Swindel em www.fractis.net.
Saiba mais sobre o encontro de Blogueiros de Diabetes em www.blogueirosdasaude.org.br.
Sobre a pesquisa da dQ&A: https://diatribe.org/issues/67/learning-curve
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