segunda-feira, 28 de maio de 2018

Autocuidado começa no prato



A alimentação é um dos pilares do tratamento do diabetes. É também o foco das maiores dificuldades no manejo da condição, especialmente no DM2.
O problema é que, ao receber o diagnóstico de diabetes, a pessoa – e todos a seu redor – pensam que a partir dali a alimentação vai ter de mudar radicalmente. “Não poderei comer mais nada”, é a queixa e preocupação comuns.
Esse é o primeiro mito a ser derrubado. Sabe qual a diferença entre a dieta saudável, que deveria ser seguida por todos, e a alimentação recomendada para quem tem diabetes? NENHUMA.
Na verdade, a diferença está na atitude com relação à alimentação. É adotar a alimentação como uma forma de autocuidado. O que deveria ser seguido por todos, com diabetes ou não. O problema está em enxergar o cuidado que deve ser dado às refeições como uma punição, castigo por ter diabetes.
Outro mito a derrubar, que envolve as maiores "dores" no diabetes: quem tem diabetes PODE COMER AÇÚCAR. A sacarose (nome “oficial” do açúcar de mesa) é um tipo de açúcar simples, que tem reflexo rápido na glicemia. Mas os alimentos contendo açúcar não aumentam a glicemia mais do que outros carboidratos, quando ingeridos em quantidade equivalente. Não sou eu que estou dizendo: está lá nas Diretrizes da SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes) 2017-2018.
Sim, é preciso controlar as quantidades. Mas isso não é para todos? Quem tem diabetes não pode comer o pudim inteiro. Mas eu também não posso, ninguém pode. A Organização Mundial da Saúde recomenda PARA TODA A POPULAÇÃO que o consumo de sacarose não ultrapasse 5% do total diário de calorias consumidas. Se pensarmos em uma dieta de 2000 calorias, seriam 25 gramas de açúcar por dia. Para ter uma idéia, aqueles pacotinhos disponíveis nas cafeterias têm 5g cada. Difícil saber quanta sacarose há escondida na bolachinha recheada ou no bolo de chocolate. Mas UMA latinha (350ml) de refrigerante contém 35g de açúcar, superando sozinha a meta diária.
Falando em açúcar, lembramos de carboidratos, que também não estão proibidos para quem tem diabetes. A recomendação é a mesma do que para a população em geral. Assim como a recomendação para o consumo de proteínas, gorduras, legumes, verduras e frutas.
Frutas? Mas fruta pode no DM2? Sim. E QUALQUER fruta. Vale caqui, manga, uva, sapoti, atemoia, açaí etc. etc. É o mesmo conceito: frutas têm frutose, um tipo de açúcar que também gera impacto na glicemia. De novo, tudo depende da quantidade. Se você comer 5 bananas, a glicemia vai subir muito. A sua e a de quem não tem diabetes também. Não é saudável para ninguém. Cuidado também com sucos concentrados, que são, na prática, várias unidades de frutas em um único copo. Mas não se esqueça de que frutas têm micronutrientes fundamentais e não podem ficar de fora da dieta. Basta distribuir esse consumo durante o dia.
Essas são apenas algumas pinceladas sobre o que é uma alimentação saudável. Em outros momentos, vamos falar de escolhas saudáveis, dos melhores tipos de carboidratos, proteínas e gorduras. Para todos.
No mais, o planejamento alimentar deve ser individualizado, levando em conta necessidades e preferências. Pode valer a pena consultar uma nutricionista. Estudos mostram que a intervenção nutricional tem impacto significativo na redução da hemoglobina glicada no DM2 depois de 3 a 6 meses de seguimento com profissional especialista.
No artigo Por que consultar um nutricionista, publicado no site da SBD, a nutricionista Marlene Merino, da Universidade Federal Fluminense, lembra que a primeira consulta com um profissional de nutrição deve ocorrer idealmente logo após a consulta com o médico que fez o diagnóstico de diabetes. “Assim, toda a ansiedade em relação à alimentação vai ser atenuada e mais rapidamente haverá melhora da glicemia”.
O importante é adotar um plano alimentar que faça da comida uma fonte de saúde e prazer. Não uma briga diária. Menos ainda uma rota sem volta para complicações de saúde.
Aproveite o diagnóstico de diabetes para dar a volta por cima e começar a cuidar da sua saúde no prato.


Veja:  

Artigo da nutricionista Marlene Marino

sexta-feira, 25 de maio de 2018

Direitos e responsabilidades



Estava fazendo pesquisas para futuras publicações quando deparei, no site da IDF (International Diabetes Federation), com a Carta Internacional de Direitos e Responsabilidades da Pessoa com Diabetes. O documento, lançado em 2011, surgiu da necessidade, detectada pela organização, de combater a discriminação enfrentada pelas pessoas com diabetes ao redor do mundo. “Para muitos homens, mulheres e crianças, o diagnóstico de diabetes marca o fim da normalidade e o começo da exclusão social. Precisamos mudar essa história”, diz a introdução da Carta.
O objetivo da IDF com o documento é reduzir ou eliminar as barreiras para que as pessoas com diabetes possam exercer seu total potencial como membros da sociedade, a partir da conquista da plena saúde e qualidade de vida.

A Carta da IDF reconhece três direitos fundamentais da pessoa com diabetes e também responsabilidades. Vale a pena ler e refletir. Veja abaixo:


1.   1. Direito ao tratamento

A pessoa com diabetes tem direito a:
  • Diagnóstico precoce e acesso viável e equitativo aos cuidados e tratamentos, independentemente de raça, etnia, gênero ou idade, incluindo disponibilidade de apoio e cuidados psicossociais.
  • Receber aconselhamento, educação e tratamento regulares e confiáveis, de acordo com evidências científicas, tendo como meta suas necessidades, independentemente do ambiente em que recebem esse atendimento.
  • Ter o benefício do alcance proativo da comunidade da área de saúde, como campanhas de educação e prevenção em todos os locais de assistência à saúde.
  • Acesso a serviços e cuidados de alta qualidade durante e após a gravidez e parto.
  • Acesso a serviços e cuidados de alta qualidade durante a infância e a adolescência, com reconhecimento das necessidades especiais daqueles que ainda não conseguem se representar.
  • Cuidados continuados adequados, considerando a progressão da doença e as mudanças que ocorrem com a idade.
  • Continuidade de atendimento apropriado em situações de desastre ou emergência.
  • Ser tratado pelos profissionais de saúde com dignidade e respeito – incluindo o respeito pela pessoa (também pais e cuidadores), pelas crenças religiosas e culturais. Sentir-se livre para criticar ou denunciar qualquer falha no serviço de saúde sem prejuízo ao seu tratamento.
  • Ter as informações relativas ao diabetes mantidas em sigilo e não divulgadas a terceiros sem consentimento. Optar por participar ou não de projetos de pesquisa, sem prejuízo ao seu tratamento.
  • Lutar, individual e coletivamente, junto aos gestores públicos e responsáveis pelos serviços de saúde, por melhorias nos serviços e cuidados no diabetes.


2. Direito à informação e educação

A pessoas com diabetes, pais e cuidadores, têm direito a:
  • Informação e educação sobre diabetes, incluindo prevenção, diagnóstico precoce, manejo eficaz da doença e acesso à educação e recursos clínicos.
  • Educação de alta qualidade para o autocuidado, no diagnóstico e sempre que necessário, incluindo aspectos clínicos, comportamentais e psicossociais, em grupo ou individualmente.
  • Estar envolvido no planejamento, implementação, monitoramento e avaliação de seus metas de tratamento.
  •  Informações confiáveis sobre os nomes e dosagens de quaisquer terapias e medicação, ações e potenciais efeitos colaterais e interações com outras condições médicas e terapias, sempre específicas para o indivíduo
  •  Acesso individual aos seus registros médicos e outras informações solicitadas e o direito de que essas informações sejam compartilhadas.


3. Direito à justiça social

A pessoa com diabetes tem o direito a:
  • Ser um membro totalmente engajado na sociedade, tratado com respeito e dignidade por todos, sem sentir necessidade de esconder o fato de ter diabetes
  • Medicamentos e tecnologias de monitoração acessíveis.
  • Receber tratamento justo no trabalho e na carreira profissional, reconhecendo a existência de certas ocupações onde potenciais riscos podem limitar o emprego de pessoas com diabetes.
  • Ser tratado com respeito e dignidade por todos os setores da sociedade.
  • Não ser descriminado na contratação de todas as formas de plano ou seguros de saúde, bem como na liberação de licença para dirigir.
  • Ter total suporte nas atividades de pré-escola, escola, durante atividades extracurriculares, bem como nos locais de trabalho. Ter tempo para ir a consultas médicas, bem como privacidade para realizar testes de glicemia e aplicação/uso de medicamentos em um ambiente limpo e seguro.
  • Criar ou participar de uma organização de pacientes e procurar apoio para essa organização nos órgãos de saúde e na sociedade civil.


4. Responsabilidades

A pessoa com diabetes tem a responsabilidade de:
  • Compartilhar informação com os profissionais de saúde sobre sua condição, os tipos de medicação usada, alergias, ambiente social, comportamento, estilo de vida e outras informações que sejam relevantes para que o profissional possa determinar o tratamento e aconselhamento mais adequados.
  • Gerenciar seu plano de tratamento e autocuidado.
  • Adotar, implementar e monitorar hábitos saudáveis como parte do autocuidado do diabetes.
  • Compartilhar com os profissionais de saúde/equipe médica qualquer dificuldade que tenha com o plano de tratamento recomendado, incluindo barreiras para sua implementação bem sucedida.
  • Informar família, escola, colegas de escola e trabalho sobre ter diabetes, para ter apoio e suporte quando necessário.
  • Mostrar consideração e respeito pelos direitos das outras pessoas com diabetes e com os profissionais de saúde que as assistem.

Veja mais em:
https://bit.ly/2xdOnzd






terça-feira, 22 de maio de 2018

Cinturinha de pilão?


Certamente você já ouviu falar que diabetes tipo 2 tem a ver com obesidade. Talvez até você ache que tem a ver APENAS com obesidade.
Sim, o excesso de peso é um dos fatores de risco para o desenvolvimento do DM2. Especialmente a gordura acumulada ao redor da cintura. Isso porque a gordura corporal favorece o desenvolvimento da chamada resistência à insulina. Funciona assim: o aumento do tecido adiposo leva o pâncreas a produzir mais insulina. O excesso de insulina começa a gerar a resistência, por um mecanismo de saturação dos receptores celulares. Quanto mais insulina é produzida, maior a resistência.
Esse ciclo facilmente entra em desequilíbrio, trazendo aumento da glicemia. A isso se soma a presença de células adiposas sobrecarregadas (com muita gordura!), gerando no organismo um ambiente inflamatório. Que é fator de risco não apenas para o diabetes tipo 2 mas também para problemas cardiovasculares, especialmente pressão alta e aterosclerose (formação de placas de gordura na parede interna dos vasos sanguíneos).


Mas não apenas o peso extra causa DM2. Muitas pessoas magras têm diabetes e outras gordinhas nunca vão desenvolver a doença. Isso porque existem outros fatores de risco também determinantes para o diabetes tipo 2. Os principais são histórico familiar (pai/mãe/irmão com DM2), dieta desequilibrada e falta de exercício. Esse é ou não um perfil comum? Infelizmente, hoje um número enorme de pessoas não faz escolhas saudáveis. Por que então só quem tem diabetes tipo 2 é tachado de preguiçoso, descomprometido, desleixado?
No início dos anos 2000, alguns estudos importantes mostravam que adotar um estilo de vida mais saudável, com alimentação equilibrada e prática regular de atividade física, é a base para evitar ou retardar o desenvolvimento do diabetes tipo 2. Paradoxalmente, essas pesquisas contribuíram para criar ou amplificar o estigma sobre o DM2, que passou a ser visto como resultado de um “estilo de vida doente”. Ou seja, culpa da vítima.
Porém, diabetes tipo 2 é mais do que isso. É uma condição multifatorial, que envolve mecanismos fisiológicos nem sempre controláveis. Culpar uma pessoa com DM2 por sua condição é fazer uma série de suposições – verdadeiras ou não – sobre o modo como ela vive a vida. Mesmo que a pessoa não tenha feito ou não faça as escolhas mais saudáveis, por que o preconceito? Outras doenças e condições são causadas por maus hábitos, mas não se estabelece culpa no infarto ou na hipertensão, por exemplo.
Mas voltando ao nosso assunto de hoje. Se você ainda não tem o diagnóstico ou se está desconfiado que o cônjuge ou amigo(a) tenha DM2, saiba que também podem ser indicativos de risco:
·         Pressão alta
·         Dislipidemia (taxa elevada de colesterol ou triglicérides)
·         Diabetes gestacional prévio (ou bebê nascido com mais de 4 kg)
·         Síndrome de ovários policísticos
·         Apneia do sono
·         E, claro, ter diagnóstico de pré-diabetes (diminuição da tolerância à glicose ou glicose de jejum alterada)
Você também pode fazer o teste disponível no site da IDF (International Diabetes Federation), em https://www.idf.org/type-2-diabetes-risk-assessment/.

sexta-feira, 18 de maio de 2018

E o coração padece


O coração é a maior causa de morte no diabetes. Nada menos do que 3 em cada 4 pessoas com diabetes morrem de doença cardiovascular. Isso porque a glicemia constantemente elevada altera a função das células do endotélio, que é o revestimento interno dos vasos sanguíneos. Quando o dano atinge os pequenos vasos, surgem as complicações microvasculares, como a retinopatia, a nefropatia e a neuropatia (falamos sobre elas no último post, Complica não). Quando os vasos afetados são os grandes, tem-se a doença cardiovascular.
Para piorar, as pessoas com diabetes – especialmente no DM2 – costumam apresentar outros fatores de risco, como hipertensão, níveis elevados de colesterol e triglicérides, tabagismo, excesso de peso, sedentarismo e dieta inadequada. O estudo Diab-Core, realizado na Alemanha junto a quase 1300 pacientes com diabetes tipo 2, mostrou que 82,5% também apresentam hipertensão e quase 55% têm dislipidemia (estima-se que 49% tenham pressão alta já no diagnóstico). Pior: 77% não conseguem sucesso no controle das duas patologias. Sem contar que o fato de ter diabetes aumenta a chance de desenvolver hipertensão, aumentar o colesterol e é fator de risco para a insuficiência cardíaca.


Imaginem o quadro: a glicemia alta causa danos ao endotélio, como explicamos acima. O que facilita a deposição de placas de gordura, resultado do colesterol elevado. Daí, a pressão alta enrijece a parede das artérias (em caso de fumantes e sedentários, mais ainda), que perdem elasticidade para a passagem do sangue.  Resultado?  Bloqueio do vaso. Se acontecer no coração, é infarto. Se for no cérebro, AVC (acidente vascular cerebral ou derrame). Como consequência, a cada ano 47 em cada 1000 pessoas com diabetes têm um evento cardiovascular.



O que fazer? Sentar e chorar?? Nada disso. A boa notícia – sim, existe boa notícia – é que o autocuidado é capaz de reverter esse quadro. Manter a glicemia sob controle traz uma redução de 57% na mortalidade cardiovascular, segundo um importante estudo clínico DCCT (Diabetes Control and Complications Trail). Mas não basta: é preciso tratar as doenças associadas – pressão alta, dislipidemia, insuficiência cardíaca – e adotar mudanças no estilo de vida, o que inclui parar de fumar, seguir uma alimentação saudável e praticar atividade física regularmente.
Para começar, é preciso reconhecer a existência do risco. Em pesquisa realizada pelo IBOPE Inteligência e a SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes) em 2016, apenas 42% dos entrevistados citaram as doenças cardíacas como as complicações mais relevantes do diabetes. Por isso mesmo está em andamento um estudo mundial da IDF (International Diabetes Federation) para avaliar o conhecimento que as pessoas com DM2 têm sobre os riscos relativos ao coração (veja abaixo o vídeo da campanha). O estudo Taking Diabetes to Heart pode ser acessado em https://bit.ly/2L5esn5 (ou no site www.idf.org/cvd) e deve respondido até o próximo dia 31 de maio. Vai lá!

De novo vale a mensagem: informação é poder. É preciso aumentar o acesso ao diagnóstico, tanto de diabetes como das comorbidades (doenças associadas, como hipertensão e colesterol elevado). É preciso disseminar a informação sobre o risco cardiovascular no diabetes. Há muito a ser feito pelo poder público, pela mídia, pelas entidades médicas e de pacientes.
Mas você que tem DM2 também precisa fazer a sua parte. Assuma o desafio de cuidar do seu tratamento de forma global:
  •         Adote uma alimentação mais saudável
  •      Pratique uma atividade física regular
  •         Procure uma equipe de saúde competente e comprometida, capaz de orientá-lo para o autocuidado
  •         Monitore sua glicemia constantemente e faça exames médicos regulares para rastrear as complicações
  •         Lute pelo acesso a tiras de teste, medicamentos mais adequados e um atendimento médico de melhor qualidade.

Aí o coração vai agradecer.









terça-feira, 15 de maio de 2018

Complica não....


Diabetes, especialmente o tipo 2, infelizmente quase nunca tem sintoma. Sim, infelizmente! Porque a falta de sintoma é um dos motivos para que o DM2 fique em segundo plano. Se você tem uma dor de cabeça bem forte, dessas de enlouquecer, você vai fazer de tudo para melhorar. Mas se a glicemia está constantemente em 200/220 mg/dl e você não sente nada – até diz que “se sente melhor assim” –, para quê se tratar?
É aí que mora o perigo. Como já disse aqui, quem tem diabetes não é doente, mas se a glicemia fica constantemente elevada causa estragos sérios. São as tais complicações crônicas. O pior é que, por desconhecimento ou descaso, muitas pessoas só apresentam algum sintoma quando já têm uma complicação instalada.
Se a glicemia está alta, esse açúcar em excesso traz danos para os vasos sanguíneos (artérias e veias). Por isso as principais complicações do diabetes são divididas em MICROvasculares e MACROvasculares. Hoje, falaremos aqui das microvasculares, ou seja, aquelas que têm origem em danos nos pequenos (micro) vasos, tão ou mais finos do que fios de cabelo.
São três os tipos principais de complicações microvasculares:
  • ·         Retinopatia: lesão degenerativa da retina, que pode levar à cegueira se não detectada precocemente. O risco é maior na presença também de hipertensão e colesterol elevado. Lembrando que a incidência de glaucoma e catarata é maior nas pessoas com diabetes.
  •       Nefropatia: lesão nos vasos dos rins, órgãos responsáveis por filtrar o sangue para remoção de resíduos. A hiperglicemia continuada gera sobrecarga e afeta a capacidade de filtragem. Hipertensão e cigarro agravam o quadro.
  •       Neuropatia: degeneração progressiva das fibras nervosas por conta do excesso de açúcar na circulação. Os nervos ficam incapazes de transmitir mensagens corretamente.

O diabetes mal controlado pode causar também problemas dentários, dermatológicos, genitais, articulares e até depressão. Sem falar nas doenças do coração.
Mas vale insistir: diabetes MAL CONTROLADO. Plano alimentar, atividade física, monitorização da glicemia e medicação adequada, além de exames médicos regulares, são ferramentas para controlar o diabetes e mandar para longe essas “doenças” que a hiperglicemia pode causar.
E, de novo: é preciso vencer a vergonha, o medo e o preconceito. Tomar as rédeas da sua saúde, do seu tratamento. Enquanto as pessoas com DM2 ficarem nos seus cantos menosprezando sintomas e escondendo angústias, essas comorbidades aí de cima vão continuar assombrando.
Sair do armário é fundamental!

sexta-feira, 11 de maio de 2018

Não é pouca coisa


Já falamos um pouco aqui sobre as diferenças entre os tipos principais de diabetes. Uma dúvida sempre surge: por que o diabetes tipo 2 às vezes pode ser tratado apenas com medicação oral? Significa que é um diabetes “mais fraco”? NADA DISSO. Diabetes ruim é aquele mal controlado, seja tipo 1 ou 2.
Acontece que o diabetes tipo 1 se dá exclusivamente por deficiência de insulina. Logo, o tratamento se dá exclusivamente com o uso de injeções para reposição de insulina.
Já no caso do tipo 2 a coisa é um pouco mais complexa. O DM2 é uma doença multifatorial, ou seja, causada por diversos problemas (“defeitos” do organismo) que acontecem ao mesmo tempo, com diferenças de intensidade.
·         Deficiência parcial – não total – na produção e liberação de insulina pelo pâncreas.

·       Excesso de liberação de glicose pelo fígado. Existe um mecanismo hepático que impede o colapso do corpo na falta de comida. No fígado ficam armazenados “pacotinhos” de glicose (na forma de glicogênio) que são liberados nos momentos de jejum, para manter a glicemia estável, alimentando o cérebro e levando energia para garantir as funções do organismo mesmo nos períodos sem alimento. Se esse mecanismo não funcionar adequadamente, se o fígado ficar meio doido e liberar mais glicose do que deveria, vem a hiperglicemia. Por isso às vezes mesmo quando você está sem comer há um tempão sua glicemia fica alta.
·         Resistência à insulina, que significa captação reduzida de glicose pelos tecidos periféricos (incluindo músculos e tecido gorduroso). A insulina está lá, às vezes até em quantidade bem elevada, mas não funciona direito. Isso se dá principalmente por uma redução no número de receptores celulares de insulina, que seriam as “portas” que fazem a insulina entrar na célula carregando a glicose. Se essas “portas” não se abrem, a insulina – mesmo presente – não consegue levar a glicose do sangue para as células. Daí sobra mais glicose no sangue do que deveria.
·         Déficit na liberação de incretinas, substâncias produzidas no intestino responsáveis por ajudar a regular a secreção de insulina e a absorção de glicose.
·         Falha no sistema renal responsável pela eliminação (excreção) da glicose.
Mas por que você precisa saber tudo isso? Porque só assim dá para entender a razão de ser preciso tomar tanto remédio para o DM2. Cada medicamento usado para controlar a glicemia combate especificamente um, no máximo dois desses defeitos.  Isso explica também porque cada remédio deve ser tomado em um horário específico.
E mais: o seu diabetes é diferente do diabetes do seu vizinho. Aquele remedinho novo, que está funcionando às maravilhas para ele, muito provavelmente não funcionará para você. O médico vai seguir critérios clínicos para determinar quais medicamentos são indicados para você, em quais dosagens.
E a insulina? É um dos medicamentos usados para controlar a glicemia no DM2, com a função de corrigir aquele primeiro defeito que eu citei lá em cima, exatamente a deficiência de produção do hormônio pelo pâncreas. Mas isso é assunto para outras conversas.

segunda-feira, 7 de maio de 2018

No alvo



Qual a glicemia ideal? Quer dizer, você já sabe que diabetes significa excesso de açúcar no sangue, ou seja, glicemia alta. Mas quanto é isso? Quando começa o risco?
Dois grandes estudos epidemiológicos da década de 1990 -- UKPDS (United Kingdon Prospective Diabetes Study) e o DCCT (The Diabetes and Complications Trial) – comprovaram que quanto melhor o controle da glicemia, menor o risco das chamadas complicações crônicas do diabetes. E a partir deles os médicos definiram metas de tratamento, ou seja, como deve ficar a glicemia de quem tem diabetes para manter-se saudável.
Aqui eu reforço uma das minhas principais crenças: uma pessoa com diabetes NÃO É DOENTE. Com o tratamento e o controle adequado, pode ser TÃO ou MAIS saudável quanto alguém sem diabetes. Doença é o que o diabetes pode causar se não for controlado (tema para outro post)
Mas voltando ao assunto de hoje. As metas de tratamento. Vejam a tabela abaixo:


Lembrando que a medida após a refeição deve ser feita 2 horas depois do início da refeição (primeira garfada).

Saber como andam esses números não serve para deixar você contente ou frustrado. Pouco adianta medir a glicemia apenas em jejum e muito de vez em quando. Porque, como já foi dito aqui, o resultado que aparece no aparelhinho de glicemia mostra a taxa de açúcar no sangue naquele exato momento, como numa fotografia. Pode ser, por exemplo, que sua glicemia de jejum esteja dentro da meta, mas depois do café da manhã suba uma barbaridade.
Como saber? As pessoas com diabetes tipo 1 têm costume de monitorar a glicemia várias vezes ao dia, porque é a partir dessa monitorização (no sistema de tratamento intensivo) que é definida a dose de insulina a ser aplicada. No DM2, isso não acontece – ou acontece raramente. É um dos aspectos em que o DM2 é desassistido. É uma falha na atenção/orientação dada a quem tem diabetes tipo 2.
A monitorização da glicemia é a melhor ferramenta de autoconhecimento no diabetes. Só a partir da monitorização você sabe se o pão de queijo faz subir mais a sua glicemia do que o pão francês. Ou vice-versa. Ou qual o tamanho da fatia de melancia você pode comer sem causar um estrago.
A monitorização doméstica é simples. Os glicosímetros (monitores de glicemia capilar) são fáceis de usar e não têm muito segredo. Ok, há o problema do preço e do fornecimento de fitas para medição de glicemia. No serviço público, só são distribuídas gratuitamente para quem usa insulina (inclusive com diabetes tipo 2). Mas você pode fazer um plano de monitorização. Converse com o seu médico e/ou a equipe que atende você. Não precisa medir todo dia, não precisa medir toda hora. Mas programe-se para fazer um dia em jejum, no outro dia antes e depois do almoço. No outro, antes e depois do jantar. E por aí vai. São apenas exemplos.
Mesmo que você ainda não tenha um plano, tente fazer algumas experiências. Você vai se surpreender com os resultados e vai perceber como isso ajuda a entender o funcionamento do seu organismo em determinadas situações.
Lembre-se: acima de 180 mg/dl tem-se a chamada hiperglicemia, que é uma definição acadêmica sim, mas baseada em estudos que mostram ser esse o patamar a partir do qual os efeitos maléficos da glicose no sangue começam a acontecer. Ou seja, é a partir daí que a porca começa a torcer o rabo.
Hoje, sabe-se que glicemias elevadas ou muito baixas (picos e vales), se eventuais, não são o problema. Reforçando: SE EVENTUAIS.       O importante é manter a glicemia dentro do alvo o maior tempo possível. Quanto mais tempo na meta, menor o risco de complicações.
Você não tem bola de cristal. E glicemia alta nem sempre – ou quase nunca – traz sintomas. Por isso a monitorização é tão fundamental. Vamos furar o dedo?



quinta-feira, 3 de maio de 2018

"Hemo"... o quê??




Talvez você já tenha ouvido falar do exame de hemoglobina glicada (HbA1C). Mas o que é e para que serve?
Para começar, lembremos dos tempos de escola. Hemoglobina é uma proteína presente nas hemácias (glóbulos vermelhos) que se liga ao oxigênio para transportá-lo através do sangue por todo o corpo. A hemoglobina glicada é o resultado da ligação da hemoglobina com a glicose (açúcar) presente no sangue, por meio de um processo chamado glicação. Quanto mais açúcar na circulação sanguínea, maior a formação de hemoglobina glicada. O resultado do exame de HbA1C é dado em percentual, ou seja, qual a porcentagem das hemoglobinas do sangue que sofreram glicação.
Ao contrário do exame de glicemia de jejum ou dos testes feitos com o glicosímetro, que refletem o nível de açúcar no sangue naquele exato momento (como uma fotografia), a hemoglobina glicada mostra os níveis glicêmicos dos 3 a 4 meses anteriores (tempo de “vida” da hemoglobina). Ou seja, é como um vídeo do que aconteceu com a glicemia no período.
A HbA1c é um dos instrumentos mais importantes para a identificação dos níveis de glicemia e, portanto, é utilizada tanto como critério de diagnóstico como avaliação de controle de pacientes já diagnosticados. Quanto maior a hemoglobina glicada, maior o risco de desenvolvimento das complicações do diabetes, como problemas nos rins, retina, nervos e sistema cardiovascular.
Até a década passada, a hemoglobina glicada era utilizada apenas como seguimento das pessoas com diabetes. Era – e continua sendo – um parâmetro de controle e preditor de complicações crônicas.
Em 2010, o exame passou a ser utilizado também como diagnóstico. Nesse caso, os critérios recomendados pela ADA (American Heart Association) e pela SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes) são:




                      Atenção: o exame deve ser repetido para confirmação do diagnóstico.

Quando a hemoglobina glicada é usada como parâmetro de controle das pessoas já diagnosticadas, a conversa é outra. A meta de controle de quem tem diabetes é manter a HbA1c menor do que 7%. Na tabela abaixo, você pode conferir qual a média de glicemia estimada no resultado da hamoglobina glicada.



Lembrando que, no Brasil, quase 75% das pessoas com diabetes tipo 2 têm hemoglobina glicada maior do que 7%.
Para a realização do exame de HbA1C, não é necessário jejum e a coleta pode ser feita em qualquer horário do dia. Segundo as diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), pessoas com diabetes devem realizar o exame de hemoglobina glicada a cada 6 meses se o controle estiver bom. A frequência deve ser trimestral para períodos de mudança de terapia ou casos de glicemia descontrolada.

Covid, diabetes e sedentarismo

A pandemia de covid-19 e o isolamento social dela decorrente estão fazendo mal para as pessoas com diabetes. E nada a ver com o fato de o ...