quarta-feira, 24 de junho de 2020

Nova insulina no mercado. E eu com isso?


Chegou recentemente ao mercado brasileiro a insulina FIASP (Fast-Acting Insulina Aspart), do laboratório Novo Nordisk. Trata-se de uma insulina análoga, do tipo ultrarrápida que, de fato, é duas vezes mais “ligeira” do que as insulinas de ação rápida comercializadas até aqui.
A mágica acontece com pequenas alterações na molécula da insulina aspart (nome comercial Novo Rapid), o que garante a otimização da absorção. Não só a FIASP começa a agir mais rapidamente como nos primeiros 15 minutos após a aplicação disponibiliza mais insulina em circulação.
O resultado é melhor glicemia pós-prandial, aquela que vem depois das refeições. E, consequentemente, redução significativa da hemoglobina glicada, um dos principais parâmetros de controle do diabetes. Também reduz o risco de hipoglicemia.
A FIASP pode ser administrada 2 minutos antes das refeições e até 20 minutos depois, se necessário. Vale lembrar: trata-se de uma insulina de bolus, ou seja, aplicada para “cobrir” o carboidrato ingerido em uma refeição ou para corrigir uma eventual hiperglicemia. Deve ser usada em conjunto com uma insulina basal, de ação lenta ou intermediária (NPH, glargina, levemir, degludeca).  Ou com medicamentos orais, como a metformina. Também pode ser utilizada no SIC (Sistema de Infusão Contínua), popularmente conhecido como bomba de insulina.
Dito tudo isso, você deve estar se perguntando: e eu com isso? Insulina ultrarrápida é coisa de diabetes tipo 1, certo? Errado, claro.
Primeiro, vamos falar de ciência. Entre os estudos realizados para o lançamento da FIASP, está o Onset 9, aplicado em pacientes com diabetes tipo 2. Foi um levantamento de 16 semanas, duplo cego, multicêntrico, tudo de bom. Os resultados foram significativas quedas na glicemia pós-prandial e na hemoglobina glicada entre os analisados.
Em segundo lugar, a prática. A tal glicemia pós-prandial é a que comumente está alterada no diabetes tipo 2. E mais: é ela que interfere mais intensamente no risco de desenvolvimento de doença cardiovascular (uma das principais ameaças para quem tem diabetes, de qualquer tipo).
O uso de insulinas rápidas e ultrarrápidas, bem como da insulina inalável lançada em 2019 (leia Insulina inalável chega ao Brasil) pode ajudar a prevenir a o aumento da glicemia depois das refeições, seja para quem está em esquema de insulinização plena ou mesmo aqueles que usam medicação oral e podem ter bons resultados com o uso da insulina nas refeições.
Insulina não é um bicho de sete cabeças e está longe de representar o fim da linha para quem tem diabetes tipo 2 (leia Insulina sem estigma - Parte 1 e Parte 2 e também Insulina sem mistérios). A FIASP é uma opção a mais para melhorar o controle e, assim, conquistar mais qualidade de vida com diabetes. Converse com seu médico ou profissional de saúde.

Fontes:
Diretrizes SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes) – 2020
www.novonordisk.com.br


sexta-feira, 5 de junho de 2020

Nova opção no SUS ajuda o coração


Remédios para o coraçãoNeste momento conturbado que o mundo atravessa, em meio às incertezas e preocupações geradas pela pandemia de Covid-19 e o distanciamento social dela decorrente, pelo menos uma boa notícia para quem tem diabetes tipo 2. Foi publicada no dia 04 de maio a Portaria número 16 do Ministério da Saúde que determina a incorporação do medicamento dapagliflozina no SUS para o tratamento de DM2 no Brasil.
Ter mais um medicamento à disposição para tratar qualquer doença é sempre uma boa notícia. O diabetes tipo 2 é uma disfunção multifatorial, com evolução distinta de indivíduo para indivíduo. Portanto, não tem uma “receita de bolo” para ser controlado. Para cada pessoa, há um tratamento adequado. Logo, com mais opções há maior chance de se chegar à terapia ideal.
A dapagliflozina é um medicamento da classe dos inibidores de SGLT-2 (do inglês, cotranspotador sódio-glicose). Esse tal SGLT-2 é uma proteína presente no rim responsável por reabsorver a glicose que é filtrada antes que seja eliminada pela urina. Ao bloquear o SGLT-2, o medicamento reduz essa reabsorção, aumentando a excreção de glicose e reduzindo os níveis de açúcar no sangue.
Além de melhorar o controle da glicemia, os inibidores de SGLT-2 mostraram uma apreciável vantagem adicional: reduzem o risco cardiovascular, um dos principais “fantasmas” de quem tem diabetes (leia E o coração padece e Falha na bomba).
No caso específico da dapagliflozina, o medicamento que vai passar a ser oferecido pelo SUS, os benefícios foram estabelecidos pelo estudo DECLARE-Timi 58, um grande ensaio clínico realizado entre 2013 e 2018 com mais de 17 mil indivíduos de 33 países. Todos os analisados tinham diabetes tipo 2 e mais histórico de doença cardiovascular ou múltiplos fatores de risco.
O estudo mostrou que a dapagliflozina, além de diminuir significativamente a glicemia e a hemoglobina glicada, reduz as taxas de morte por doença cardiovascular e de hospitalização por insuficiência cardíaca. Outro benefício é que a proteção dos rins, reduzindo até mesmo progressão da doença renal já instalada.
As boas notícias não param por aí. A dapagliflozina mostrou queda da pressão arterial sistólica. E, por conta da maior excreção de glicose pela urina (cerca de 50g a 90g por dia), pode ocorrer também redução de peso – em média 2 a 3 kg.
Mas claro que existem efeitos colaterais. Exatamente por causa da maior presença de glicose na urina, a dapagliflozina (e os demais inibidores de SGLT-2) podem causar infecções genitais e no trato urinário, como candidíase. E há um risco aumentado de cetoacidose para quem faz uso de insulina.
Se você ficou animado, acalme-se. Em primeiro lugar porque a dapagliflozina só vai estar disponível no SUS, na melhor das hipóteses, em outubro. Além disso, o médico é que vai determinar se esse é um medicamento indicado para você. Sempre levando em conta o nível de hemoglobina glicada, o risco de hipoglicemia, tolerabilidade e disponibilidade.
A indicação é que a dapagliflozina seja usada como segundo fármaco, normalmente em associação com a metformina. 
Vale sempre lembrar que o diabetes tipo 2, como já disse acima, é uma doença multifatorial que tem desenvolvimento distinto de indivíduo para indivíduo. Portanto, a dapagliflozina pode ser ótima para seu vizinho, mas não para você.
A dapagliflozina é uma opção terapêutica adicional.  Converse com seu médico.





Covid, diabetes e sedentarismo

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