A prestigiada revista científica The Lancet Global Health Journal publicou no último dia 4 de
setembro um artigo alarmante: levantamento capitaneado pela Organização Mundial
da Saúde constata que mais de um quarto da população adulta do planeta – 27,5%
ou nada menos do que 1,4 bilhão de pessoas – são insuficientemente ativas. E,
portanto, em maior risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares,
diabetes tipo 2, demência e alguns tipos de câncer.
Pior ainda para nós: o Brasil ocupa o 5º lugar deste ranking
funesto, com o levantamento mostrando que a inatividade física atinge 47% da
população brasileira – 53% das mulheres e 40% dos homens acima de 18 anos.
Perdemos apenas para Kuwait (67%),
Samoa Americana (53,4%), Arábia Saudita
(53,1%) e Iraque (52%)
O levantamento da OMS (Worldwide trends in insufficient physical
activity from 2001 to 2016) computou dados de 358 pesquisas
de 168 países, incluindo um total de 1,9 milhões de participantes. Contempla a atividade física
realizada no trabalho, em casa, para transporte e durante o tempo livre.
Outro ponto preocupante: ao comparar dados de 2001 e 2016, o estudo revela
que os níveis de inatividade física permaneceram estáveis. Ou seja: ao contrário de outros fatores de risco para
a saúde, os níveis de inatividade física não estão caindo, como bem lembra a
principal autora do estudo, Regina Guthold (OMS, Suíça). No caso do Brasil, a
coisa foi um pouco pior: a taxa de inatividade cresceu mais de 15%. Crescimento
similar aconteceu também na Alemanha, Bulgária, Filipinas e Singapura.
As mulheres são
menos ativas do que os homens em todas as regiões do mundo: cerca de uma em
cada três mulheres (31,7%) e um em cada quatro homens (23,4%) não atingem os
níveis recomendados de atividade física para se manterem saudáveis. As maiores
diferenças de nível de inatividade entre os gêneros foram encontradas na Ásia
(sul e centro), Oriente Médio e norte da África.
As regiões do mundo com
maior prevalência de inatividade são, segundo o levantamento, América Latina e
Caribe (43,7%), sul da Ásia (43%) e países ocidentais de alta renda (42,3%),
como Alemanha (42%), Portugal (43,4%), Itália (41,4%), Estados Unidos (40%) e Bélgica
(35,7%). Aliás, nos países com população de alta renda a inatividade é duas
vezes mais alta. O que pode ser explicado pela prevalência de ocupações mais
sedentárias e maior uso do transporte motorizado.
O que esses números evidenciam,
acima de tudo, é que alguma coisa precisa ser feita – e rapidamente – para mudar
esse cenário. O artigo cita o Brasil como um dos países nos quais, devido à
rápida urbanização, a adoção de políticas para estimular a atividade física da
população é particularmente importante. Segundo a OMS, cabe aos países implementar
políticas públicas para encorajar o uso de transporte não motorizado (como
caminhada e ciclismo) e promover atividades recreativas/esportivas no tempo
livre dos indivíduos, com a melhoria em infraestrutura e criação de ambientes
que estimulem a atividade física -- parques, espaços públicos aberto e locais
de trabalho, por exemplo. É preciso aumentar as oportunidades para que pessoas
de todas as idades e habilidades sejam ativas, todos os dias.
Para isso, vale
lembrar o Plano de Ação Mundial sobre Atividade Física e Saúde: More active
people for a healthier world
(veja Por mais pessoas ativas), lançado pela própria Organização Mundial da Saúde em junho deste ano e que
será referendado na reunião da Assembléia Geral das Nações Unidas sobre Doenças
Crônicas Não Transmissíveis que acontece no próximo dia 27, em Nova York. O
plano é um roteiro para as intervenções necessárias em todos os países, com o
objetivo de reduzir a inatividade física entre adultos e adolescentes em 10%
até 2025 e 15% até 2030.
Enquanto isso, por aqui, o Brasil vive um momento em que precisa
enfrentar inúmeros problemas. O sedentarismo, como se vê, é mais um, mas não
menos importante. Vale descobrir o que pensam a respeito os candidatos à
Presidência, Senado, Câmara de Deputados e Assembleias Legislativas estaduais.
Para saber mais:
A campanha da OMS: More active people for a healthier world
Vídeo da campanha da OMS: Let´s be active
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