quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Descontrole na pele


De repente, a glicemia começa a subir sem motivo. Você não abusou da comida e usou a dose de insulina de sempre. Mas os números passam a ser cada vez mais altos. Você aumenta um pouco a insulina. E nada.... O diabetes piorou? É preciso aumentar ainda mais as doses da medicação?
Pois é, pode não ser nada disso. Pode ser lipodistrofia. Já ouviu falar?
Lipodistrofia é uma alteração no tecido subcutâneo que surge em função de erros na aplicação de insulina. O tipo mais comum de lipodistrofia é a lipo-hipertrofia, quando há acúmulo de gordura nos locais mais frequentemente usados para a aplicação, formando nódulos endurecidos sob a pele, visíveis e/ou palpáveis, dolorosos ou não.
Sim, a pele pode ficar bem feia. Mas a lipodistrofia NÃO É um problema estético. É um problema de saúde. Porque provoca o descontrole da glicemia. Como funciona? A absorção de insulina nos locais com lipodistrofia é imprevisível. Em alguns casos, pode ocorrer hipoglicemia. Em geral, porém, a absorção é insuficiente e a glicemia sobe.
Isso quer dizer que muitas vezes, quando a glicemia está descontrolada, não significa que você comeu demais ou que a dose de insulina precisa ser modificada!
A lipo-hipertrofia acomete 56% das pessoas com diabetes tipo 2 que usam insulina. A boa notícia é que PODE SER EVITADA e revertida. Sim, porque as principais causas são falta de rodízio de locais de aplicação e reutilização de agulhas.
Sobre os locais de aplicação, vale relembrar:
  • Braços: face posterior, 3 a 4 dedos abaixo da axila e acima do cotovelo (considere sempre os seus dedos)
  • Nádegas: quadrante superior lateral externo.
  • Coxas: face anterior e lateral externa superior, 4 dedos abaixo da virilha e acima do joelho.
  • Abdome: regiões laterais direita e esquerda, 3 a 4 dedos distante do umbigo.



Acredite: não é frescura. A insulina só vai funcionar DE FATO quando aplicada nesses locais, que têm uma camada de gordura suficiente para que a agulha fique no tecido subcutâneo e não atinja o músculo.
No entanto, de nada adianta aplicar sempre no mesmo lugar.  Nada menos do que 98% das pessoas que desenvolvem lipo-hipertrofia não fazem o rodízio dos locais de aplicação.
O rodízio garante que o tratamento com insulina seja seguro e eficaz. E melhor se feito com planejamento. Segundo as Diretrizes 2017-2018 da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), é necessário considerar o número de aplicações por dia e as atividades diárias usuais. Algumas sugestões:
·         Divida cada local de aplicação recomendado em pequenos quadrantes. Dentro desses quadrantes, faça aplicações em sentido horário, separadas uma da outra por pelo menos 1 cm (cerca de um dedo).
·         Para quem faz múltiplas aplicações, vale fixar um local para cada horário (tipo braço pela manhã, abdome na hora do almoço etc.). Sempre seguindo, em cada local, o esquema de quadrantes descrito acima.
·         Para quem faz uma ou duas aplicações por dia, dá até para usar sempre o mesmo local, se você tiver uma preferência. Mas alternando o lado (esquerdo e direito) e seguindo o esquema dos quadrantes.
A ideia é que você volte a aplicar exatamente no mesmo ponto só a cada 14 dias, que é o tempo que a pele leva para cicatrizar totalmente.
Outra causa para o surgimento da lipo-hipertrofia é a reutilização de agulhas. Estima-se que, em todo o planeta, metade dos usuários de insulina use as agulhas mais de uma vez. Na média, o reuso chega a cinco vezes/agulha. Os motivos vão desde conveniência, economia, falta de insumo até preocupação ambiental.
A lipo-hipertrofia está presente em 70% das pessoas que fazem o reuso. O problema é que a agulha, quando utilizada mais de uma vez, sofre alterações na ponta, como perda de afiação e lubrificação, o que pode provocar obstrução, dor, desconforto e lesão na pele. Sem contar o aumento do risco de infecção, já que, uma vez utilizada, a agulha deixa de ser estéril.
Então, para evitar a lipodistrofia:
  • Faça rodízio dos locais de aplicação
  • Não reutilize agulhas
  • Examine o local da aplicação: veja se há alguma alteração de tecido, além de edema (inchaço), inflamação ou infecção. Em qualquer dessas condições, aplique em outro local.
  • Peça ao profissional da sua equipe de saúde que faça um exame minucioso dos locais em que você costuma fazer a aplicação.

Importante: se você constatou que está com lipodistrofia e vai mudar o local de aplicação, fique atento para o risco de hipoglicemia, já que em um tecido sem lesão a absorção de insulina será plena. Pode também ser necessário reduzir as doses aplicadas.
Intensifique a monitorização e cuide da sua pele, para garantir a qualidade do controle do seu DM2.


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